O ex-vendedor de picolés que virou empreendedor de sucesso

Danielle era recém-nascida quando seu pai decidiu mudar o rumo da empresa. A fabricante de químicos industriais, que já operava há 5 anos, passou aos produtos para cabelos. Com a nova cara, o negócio precisaria de um novo nome, e uma ex-funcionária sugeriu a homenagem à filha. “Huumm, ‘shampoo Danielle’ não soa tão bem, mas de repente se eu pegar só o final, tirar um L, trocar o E pelo Y…”

O próprio Daniel desenhou o logotipo na hora. O nome Niely vinha acompanhado de um coração — “para dar charme”, ele brinca — e as letras faziam curvas vigorosas como os fios mais bem tratados.

A produção dos cosméticos ainda era artesanal, mas a virada de chave veio de um sonho do empreendedor de deixar de atender um nicho e passar a vender para o Brasil inteiro. Desde o início, ele tinha a visão de que faria um negócio grande. Enxergou a oportunidade pela demanda das pessoas de sua própria comunidade e apostou nos preços acessíveis e no público feminino para alcançar uma abrangência nacional.

Três décadas se passaram e a aposta se provou certeira: depois de receber muitas propostas de aquisição, em 2015, Daniel de Jesus aceitou vender a Niely para o Grupo L’Oréal.

Visão extraordinária

Desde moleque Daniel tem o talento para vender. Saía pela estação de trem com o isopor cheio de picolés, e assim complementava a renda da família. Além da faculdade de química, que concluiu aos 34 anos, diz que fez seu MBA no ponto de vendas. Ainda que ele participe de cada etapa da vida de um produto, é na rua que ele mais aprende e mais gosta de estar.

Conversando com fornecedores e clientes, foi consolidando sua estratégia e desbancando concorrentes até da gringa.

Mas é claro que nem tudo são flores. Inclusive, ter uma visão maior do que a que esperam para seu negócio também tem seu ônus. Ou você acha fácil ignorar todas as vozes que o acusam de louco a cada passo um pouco mais arriscado?

Se ele queria lançar uma linha de coloração, vinham mostrar como as multinacionais eram muito mais fortes. Se fazia um investimento maior em publicidade, diziam que era extravagância. A pressão, às vezes, chegava até ele. O primeiro contrato da empresa com o Big Brother Brasil, por exemplo, não deixou Daniel dormir por uma semana: “Eu nem tinha dinheiro para pagar a prestação”.

Nada de arrependimentos. Oito anos de parceria com o reality show e várias outras iniciativas depois, o faturamento da Niely chegou a R$ 540 milhões, empregando mais de 2.200 pessoas.

Sofrido desapego

Danielle hoje tem 30 anos, a mesma idade da empresa onde era diretora ao lado do pai. Trabalha agora em Nova York na área de marketing do Grupo L’Oréal.

Daniel ficou por aqui. Apesar de morar na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, suas raízes continuam em Nova Iguaçu, município vizinho, onde montou seu primeiro negócio. É lá que ele corta o cabelo, conserta o sapato e é parado e reconhecido no shopping pelos moradores. Também é onde montou seu escritório após a venda, um processo que foi doloroso tanto para ele quanto para a família.

“A gente sente muita falta porque aquilo foi feito com muito amor e muito carinho”, diz.

Ao mesmo tempo, a venda fecha um ciclo que representa o caminho árduo e improvável do ex-office boy, filho de uma costureira e um ascensorista. Independentemente dos contratempos da infância pobre, sempre preferiu olhar para frente.

“Desde criança eu pensava: ‘vou ser alguém na vida. Como, eu não sei. Se vou ter que trabalhar 10, 12, 14 horas por dia ou mais, vou trabalhar. Vou ter sucesso’”.

Parece que, mais uma vez, sua visão não falhou.

Fonte: Exame


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