A velocidade frenética do mundo dos negócios cria uma aparente contradição. É possível galgar posições e chegar à liderança cada vez cedo — mas é bem mais difícil se conservar no topo de uma empresa por muito tempo.
Nunca os CEOs estiveram tão vulneráveis. “Hoje, os acionistas estão muito mais impacientes do que antes”, explica o coach João Marcelo Furlan, presidente da consultoria Enora Leaders. “Se o presidente da empresa não está dando resultados, eles exigem que seja substituído”.
A processo de ascensão até a cadeira mais alta da hierarquia executiva mudou muito nas últimas décadas.
No passado, quem costumava chegar ao cargo eram as figuras vistas como “geniais”, diz José Augusto Figueiredo, presidente da consultoria de recursos humanos LHH. “Não por acaso, muitos eram oriundos do setor de marketing, ligado à criatividade, o que não se vê mais com tanta frequência hoje”, explica.
Hoje, o principal ponto de partida dos futuros CEOs é o departamento comercial da empresa.
Segundo Figueiredo, os presidentes passaram a ser cada vez mais medidos pela sua capacidade de seduzir e cativar os demais com seu discurso — uma capacidade típica de quem atua no mundo das vendas.
Executivos de operações também são candidatos naturais à posição. Como precisam interagir com pessoas o tempo todo, dentro e fora da organização, eles acabam ganhando visibilidade e podem chegar ao poder, especialmente se conseguirem se posicionar como articuladores dos diversos braços da empresa.
Além de vendas e operações, o departamento de finanças também tem sido “criadouro” preferencial de muitos CEOs no Brasil. A crise econômica que o diga.
“O diretor financeiro sabe cortar custos, tem uma forte visão de negócios e conhece bem os números da companhia”, explica Irene Azevedo, diretora da consultoria LHH. “Ele virou uma figura central na crise, e muitas vezes é escolhido para o comando pela necessidade de tornar a empresa mais enxuta e lucrativa”.
De acordo com Furlan, outra mudança notável em relação ao passado é a ascensão de executivos de áreas menos tradicionais, como RH e atendimento ao cliente. “Isso é resultado da valorização do capital humano para os negócios”, explica. “Setores da empresa que se dedicam às pessoas têm ganhado visibilidade e começam a originar mais CEOs”.
Sonha com o poder? Veja a seguir 7 características de quem tem tudo para chegar ao cargo:
1. Acumula experiências heterogêneas
É fato que alguns departamentos levam mais executivos à cadeira da presidência do que outros. Ainda assim, ter um currículo eclético —isto é, ter transitado por vários setores dentro da organização — é um diferencial interessante para candidatos ao cargo.
A diversidade de experiências traz visão sistêmica, um traço indispensável para qualquer presidente. Afinal, o seu foco deve ser o todo, e não as partes, de uma empresa. “Se você compreende bem o que faz cada área, também tem mais facilidade para delegar, o que é fundamental para a posição”, diz Azevedo.
2. Consegue ser, ao mesmo tempo, visionário e pragmático
Um bom CEO consegue ver de longe: ele enxerga possibilidades para o futuro que costumam ficar “invisíveis” para as demais pessoas. “O detalhe é que ele precisa ‘sonhar’ sem tirar o pé do chão, isto é, combinar os seus ideais com um raciocínio prático, orientado para resultados”, explica a diretora da LHH.
Isso também vale para sua postura frente aos demais. O presidente deve incentivar a inovação e a ousadia dentro da companhia, mas também deve garantir o controle dos riscos. A postura pode parecer contraditória, mas é justamente essa ambivalência que permite o desenvolvimento sustentável do negócio.
3. É extremamente resiliente
Importante a qualquer tempo, a inteligência emocional é especialmente necessária aos CEOs em meio à crise econômica que abate o país. Isso porque o presidente é alvo de pressões intensas e constantes que vêm de todos os lados: dos acionistas, dos donos da empresa e do mercado em geral.
Conviver com essa avalanche de cobranças exige muita resiliência, capacidade descrita pelo psicólogo inglês Conor Neill, professor na IESE Business School, como a capacidade de encarar a realidade de frente, ser grato pelo que se tem e ser habilidoso em encontrar soluções. Veja 5 hábitos que podem tornar você mais resiliente na sua rotina.
4. Sabe tomar decisões sozinho — e rápido
Chegar à presidência exige sólidas habilidades de relacionamento, mas exercer o poder pode ser uma tarefa surpreendentemente solitária. Segundo Irene Azevedo, da LHH, o CEO precisa ser capaz de fazer escolhas muito difíceis sem consultar os demais.
A missão pode ser assustadora, especialmente porque a velocidade do mundo dos negócios deixa pouco tempo para deliberar. “O presidente deve pensar e agir rápido frente às mudanças”, diz João Marcelo Furlan, da Enora Leaders. “A estratégia do negócio precisa ser constantemente atualizada”.
5. É humilde
Tudo depende da cultura organizacional, mas CEOs com perfil mais modesto têm sido preferidos pelas companhias, diz José Augusto Figueiredo, da LHH. A arrogância — confundida com autoconfiança e credibilidade no passado — está ficando fora de moda.
“Ninguém mais espera que eles saibam tudo ou criem fórmulas mágicas”, explica o executivo. “O ideal é que reconheçam seus erros, peçam ajuda e busquem a cooperação de todos para chegar aos resultados”.
6. Faz o que diz
Consistência é outra característica essencial para qualquer candidato à cadeira mais alta da empresa. De acordo com Furlan, a capacidade de cumprir com a própria palavra é ainda mais importante em função da imprevisibilidade do mercado e da necessidade de gerar engajamento para ter produtividade.
“Nenhuma estratégia dá certo se não se conquista a adesão das pessoas, e isso só é possível se o líder tiver credibilidade”, diz o coach. Afinal, uma das principais atribuições dessa figura é inspirar os outros a adotar um determinado comportamento frente ao trabalho. Se não der o exemplo, quem irá convencer?
7. Tem repertório técnico
Presidentes de empresa não precisam ser especialistas, mas precisam ter conhecimentos sólidos sobre o setor e o negócio em que atuam. Embora estejam num cargo de gestão, eles também precisam conhecer detalhes técnicos sobre finanças, dominar a leitura de balanços e demonstrativos, falar outros idiomas e até entender um pouco de sociologia e comportamento.
A capacidade de se comunicar bem em público também faz toda a diferença, já que muitas vezes o CEO se converte numa espécie de garoto-propaganda informal do negócio. Em reuniões e eventos, sua imagem se confunde com a da própria empresa que ele dirige.
Fonte: Exame