Informalidade e geração de empregos são desafios para candidatos no Recife

“Ganhar pouco, trabalhar muito e sobreviver.” É assim que o entregador Fábio Luiz, 38, define a sua rotina de trabalho com o transporte de passageiros e a entrega de alimentos e medicamentos por aplicativos no Recife. A informalidade é um desafio para diversas capitais brasileiras, como a pernambucana, em meio à tentativa de amenizar o desemprego.

Fábio Luiz atua há um ano e dois meses como entregador utilizando uma moto alugada. Ele paga R$ 250 por semana —R$ 1.000 mensais— ao proprietário do veículo, que funciona como um meio de vida para muitos profissionais do ramo.

O entregador reside no bairro de Boa Viagem, na zona sul do Recife. Fábio atua com transporte de passageiros e entrega de alimentos e itens de farmácia. “Quando não dá corrida, dá entrega. Aí você fica sobrando e vou juntar o útil ao agradável. Tive que ter uma adaptação [na profissão]”, explica.

Ele diz que não está no horizonte comprar uma moto própria, já que tem outros gastos e que também pretende virar a chave e tomar novos rumos no âmbito profissional no futuro.

Fábio Luiz paga pensão alimentícia todo mês à filha de nove anos e afirma que os custos para atuar como entregador também são elevados.

“Primeiro eu rodava com um carro, mas dava trabalho porque era antigo e tinha que ter muita manutenção. Assim que começou o transporte por moto, entrei. Tem corrida que você anda 12 quilômetros e, quando tira [o custo com] combustível, óleo, pneu no chão, você ganha R$ 3 ou R$ 4.”

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Fábio trabalha de 10 a 12 horas por dia e ainda faz faculdade online do curso de gestão de pessoas e assiste a aulas online de um curso de terapia, também pagos com a renda obtida no trabalho.

“Alguns dias cheguei a 16 horas trabalhando”, diz. Aos sábados e domingos, o trabalho como entregador prossegue: “Não lembro quando foi o último dia que tirei folga”.

Para fechar as contas, a ajuda da mãe de Fábio, que era empregada doméstica e é aposentada, é determinante. “Tem dias que choro em cima dessa moto, porque a matemática não bate. Você está ali sobrevivendo abaixo do limite e começa a se questionar.”

A atuação como entregador começou meses após deixar de atuar como caixa em farmácia. Ele foi demitido do emprego no final de 2022. Depois, atuou como biscate, com ocupações eventuais.

O avanço da informalidade no país e no Recife se deu em um contexto de tentativa de retomada econômica com a redução dos índices de desemprego. Em 2022, o número foi recorde no Brasil, segundo o IBGE: 38,8 milhões de trabalhadores.

No primeiro trimestre de 2024, a taxa de informalidade no Recife era de 41,4%, acima do índice nacional (38,9%), de acordo com o IBGE. A cidade é a quinta com o maior número dentre as capitais brasileiras. Ao todo, a estimativa é de que 319 mil pessoas atuem na informalidade na capital pernambucana.

O assunto está em debate nas eleições municipais do Recife. Nos últimos anos, as políticas de fomento à geração de empregos no Recife se concentraram em programas de qualificação profissional, desburocratização e redução de cargas tributárias para setores específicos da economia, como a rede hoteleira e áreas específicas do centro do Recife.

Na área dos licenciamentos, uma lei em vigor, aprovada pela Câmara Municipal, estabeleceu um prazo máximo de 90 dias para que a prefeitura possa se manifestar sobre licenças de operação. Se não houver o parecer nesse período, a aprovação é automática dos alvarás para negócios de pequeno porte. Os licenciamentos são emitidos em até 24 horas.

Para o economista Brenno Almeida, as políticas de incentivos fiscais precisam ser aprimoradas com a cobrança sobre as contrapartidas dos negócios para a cidade.

“A cidade também vive da arrecadação. A contrapartida gerada pelas empresas também precisa ser observada. É necessária também uma cobrança pelo Parlamento municipal sobre as contrapartidas, porque talvez isso gere o aprimoramento necessário para a cidade”, diz.

O economista acredita que a ampliação de programas de qualificação técnica e a expansão de políticas de crédito são alternativas para a população que está ocupada na informalidade.

“A saída da cidade para o pequeno empreendedor ou para quem está na informalidade é crédito para que essa pessoa possa ter condições de criar de ter um capital de giro. O fomento da gestão pública é fundamental, já que uma instituição financeira [banco] só dá dinheiro se a pessoa tiver faturamento e, para isso, demora um certo tempo.”

Ele diz que também é fundamental qualificação técnica, o que cria condições melhores para os trabalhadores e “conjunturas estruturantes para que as empresas também tenham uma receita interessante”.

“Precisamos melhorar a atividade econômica e, ao mesmo tempo, empregos com salários melhores, porque existem casos de pessoas que são submetidas a jornadas de trabalho muito ruins e isso pode afetar até a saúde delas.”

No caso do entregador Fábio Luiz, ele se queixa da ausência de fornecimento de capacetes, jaquetas para atuação em dias de frio e camisas UV de proteção a raios solares por parte das plataformas de aplicativo.

“A gente também tem que comprar a bolsa de entregas. No meu caso, uso uma bolsa que meu sobrinho deu”, diz Fábio, que também paga um seguro mensal de R$ 15 por conta própria para prevenção de eventuais acidentes. “Por mais que tenha o DPVAT, pago um particular para proteção maior.”

A distribuição ocupacional das atividades econômicas também é outro elemento-chave na geração de empregos. Atualmente, o centro da cidade tenta se recuperar de um cenário de fechamento de lojas e redução visível da movimentação nas ruas.

Em março de 2023, a taxa de desocupação era de 15% no Recife, a segunda maior dentre as capitais, atrás apenas de Salvador. O número caiu e chegou a 11% no mesmo mês de 2024, saindo de segundo para o quinto lugar, a maior redução em pontos percentuais dentre todas as capitais. Mesmo assim, ficou como a terceira em número de desempregados entre as capitais do Nordeste.

Por outro lado, o rendimento médio mensal dos trabalhadores estava em R$ 2.751 em março de 2024, segundo dados do IBGE, ante R$ 2.882 em março de 2023.

De março de 2023 a março de 2024, o Recife foi de 749 mil para 771 mil pessoas ocupadas, ante uma queda de 133 mil para 96 mil pessoas desempregadas.

Para o secretário-executivo da Frente Nacional dos Prefeitos, Gilberto Perre, o tema é também um desafio para os gestores municipais, apesar da conjuntura nacional influenciar no cenário econômico.

“Em um mundo que muda as relações de trabalho tão rapidamente, o emprego é uma atividade que tem diminuído de intensidade. Prefeitas e prefeitos têm se preocupado com estratégias de capacitação profissional na economia informatizada e na verde e circular. Ao mesmo tempo, o incentivo ao empreendedorismo, em alguns cargos com parcerias com os Sebraes locais”, afirma.

O representante da Frente Nacional dos Prefeitos acredita que uma eventual redução da taxa de juros —atualmente, a Selic está em 10,5% por decisão do Banco Central— pode ajudar na geração de postos de trabalho nas cidades brasileiras atraindo investimentos.

PROPOSTAS SOBRE O TEMA DOS CANDIDATOS

João Campos (PSB): O atual prefeito e candidato à reeleição frisou que “o Recite tem se destacado na geração de empregos na atual gestão, sendo líder do Nordeste em empregos formais per capita, com 5.800 postos de trabalho por 100 mil habitantes de janeiro de 2021 a maio de 2024”. Em nota, disse que as ações da atual gestão se concentraram em três principais eixos: qualificação profissional, desburocratização do ambiente de negócios, e geração de emprego e renda. “Propostas para um eventual segundo mandato estão em fase de finalização e discussão.”

Daniel Coelho (PSD): O candidato disse que, se eleito, vai lançar o Programa Municipal de Geração de Trabalho e Renda, o Pró-Trabalho, com foco nos investimentos, promoção do turismo, construção civil e qualificação profissional “voltada aos setores mais fortes da nossa economia, a exemplo do setor de serviços de saúde e economia criativa”. “Nossa proposta para a geração de empregos passa por qualificação, por parcerias com instituições de ensino, do terceiro setor além do setor produtivo”, diz. O candidato prometeu também readequar o orçamento da Secretaria do Trabalho.

Gilson Machado (PL): O candidato afirmou que pretende fomentar o empreendedorismo e realizar ofertas de qualificação e capacitação para trabalhadores que atuam no mercado informal. Gilson prometeu criar o Centro de Fomento ao Micro e Pequeno Empreendedor, que contará com “um fundo especial com recursos da própria prefeitura, além de buscar parceria com os bancos públicos e o governo federal” e atrair linhas de crédito para negócios. Ele também quer converter lojas fechadas no centro em espaços de treinamento para a Escola de Sargentos que será implantada em Araçoiaba (PE).


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