O Brasil deverá dobrar as importações de etanol na temporada 2014/15 na comparação com a safra anterior, para 600 milhões de litros, numa temporada de quebra de produção de cana devido à seca e com o setor se preparando para uma entressafra mais longa no centro-sul, avaliou nesta quinta-feira a consultoria Datagro. Do total, a região centro-sul deverá importar 180 milhões de litros, e o Norte/Nordeste outros 420 milhões. Na temporada passada, as importações do centro-sul somaram 60 milhões de litros, enquanto as do Norte/Nordeste atingiram 250 milhões de litros. “No centro-sul, (as importações) já começaram. No Norte/Nordeste, também”, declarou o presidente da Datagro, Plinio Nastari, em entrevista ao Trading Brazil, chat da Thomson Reuters. Tradicionalmente, o Brasil importa etanol dos Estados Unidos, o maior produtor global do biocombustível. As importações, que incluem maiores volumes para a região centro-sul do Brasil, que responde por cerca de 90 por cento da produção de cana do Brasil, ocorrem em meio a uma menor oferta do produto por conta da quebra de safra pela seca. A produção de etanol na região deverá ficar em 24 bilhões de litros, 6,14 por cento menos que em 2013/14, segundo a última previsão da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que nesta quinta-feira confirmou que esta safra terminará antes do normal, resultando em uma entressafra mais longa. Segundo a Unica, 22 usinas do centro-sul já encerraram os trabalhos desta temporada, contra seis usinas paradas no mesmo estágio da temporada passada. Com uma oferta menor e uma entressafra mais longa, o presidente da Datagro estima também um aumento de mais de 10 por cento nos preços do etanol ante os valores atuais durante a entressafra, o que acaba viabilizando maiores importações. “A Datagro trabalha com um pico de 12 por cento acima dos níveis atuais na entressafra… mas um aumento não muito acima do normal. É até o momento moderado levando em conta a curva de sazonalidade de preço safra/entressafra”, afirmou Nastari. O indicador do etanol anidro (misturado obrigatoriamente à gasolina) calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) atingiu 1,3061 real por litro na semana passada. Consumo Mais Fraco As importações maiores deverão ocorrer apesar de um consumo mais fraco no Brasil, em meio a uma redução da atividade econômica, destacou Nastari. “O mercado de combustíveis no Brasil enfraqueceu por conta da redução da atividade geral na economia e isto deve continuar nos próximos meses…”, disse o consultor. “Este enfraquecimento, no entanto, não deve diminuir a intenção de produzir etanol no fim da safra 14/15 e também na safra 15/16, tendo em vista o fato de que teremos uma entressafra mais longa com a necessidade de acumulação de estoques maiores nesse momento para fazer frente ao abastecimento até o retorno das atividades em abril/maio (no centro-sul)”, acrescentou ele. Para a safra que vem, a propósito, Nastari disse que o chamado “mix de produção”, o percentual da matéria-prima destinada à fabricação de açúcar ou etanol, tende a ser “ligeiramente mais alcooleiro”. “Esse cenário leva em conta a expectativa de que nos próximos meses o mercado mundial de açúcar continuará pressionado pelos elevados estoques mundiais e ao mesmo tempo em que existe a real possibilidade de recuperação da competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina”, disse ele, acreditando que isso ocorreria por possível reajuste de preço da gasolina no mercado doméstico ou pelo retorno, mesmo que parcial, da cobrança da Cide (tributo federal). Açúcar A produção de açúcar do centro-sul na próxima temporada (2015/16) foi projetada recentemente pela Datagro entre 29,1 milhões e 31,3 milhões de toneladas, menor ou praticamente estável ante a safra atual (2014/15). Caso o ponto mais baixo da estimativa seja alcançado, a produção de açúcar do centro-sul poderia ser a menor desde a safra 2009/10, quando somou 28,6 milhões, comparando as projeções da Datagro com dados históricos da Unica. O resultado seria decorrente da menor disponibilidade de cana, após uma seca em 2014 que deverá afetar também a temporada que vem, além da perspectiva do “mix” mais alcooleiro. A moagem de cana-de-açúcar do centro-sul do Brasil em 2015/16 está estimada pela Datagro entre 520 milhões e 560 milhões de toneladas, ante 550 milhões em 14/15 e 597 milhões em 13/14. O ponto alto da estimativa da Datagro leva em conta a confirmação de chuvas mais volumosas previstas pela meteorologia e a continuidade das precipitações durante a entressafra de cana, o que ajudaria na recuperação dos canaviais afetados pelo tempo seco deste ano. Fonte: http://exame.abril.com.br/