Asa voadora poderá definir o futuro para aviação comercial

Conceito em estudo pela Airbus poderá permitir atingir as metas de redução de poluição e consumo previstas para 2050

 

A Airbus revelou no Singapore Air Show um demonstrador de tecnologia baseado no conceito de blended wing body (BWB), ou seja, a fuselagem e as asas formarem um mesmo conjunto. O seu modelo batizado de MAVERIC (Model Aircraft for Validation and Experimentation of Robust Innovative Controls) deverá permitir ampliar os estudos para redução do consumo e dos índices de poluição.

Ainda que seja um modelo em escala, com 2 metros de comprimento e 3,2 metros de largura e uma área de cerca de 2,25m², o MAVERIC possui potencial para reduzir em até 20% o consumo de combustível em comparação com as aeronaves de corredor único de atual geração, como o A320neo.

A configuração numa combinação entre fuselagem e asa abre novas possibilidades para um novo tipo de propulsão, inclusive elétrica, além de uma maior cabine de passageiros, mais ampla e versátil.

Ainda que seja apresentado pela Airbus como um conceito disruptivo, a configuração de asa voadora na aviação comercial não é uma proposta recente. O primeiro estudo foi conduzido pela então McDonnell Douglas na década de 1990, antes de sua aquisição pela Boeing. Na época o projeto previa uma aeronave que se beneficiaria de melhorias potenciais de eficiência graças a maior sustentação, gerada em toda a fuselagem, aliado ao menor arrasto. Na época se previa uso de motores com elevada taxa e derivação (by pass ratio), inclusive de open rotors, motores híbridos entre os turbofans e turbo-hélices.

Na ocasião o programa de estudos foi cancelado por suas limitações tecnológicas e regulamentares, visto que não seria possível atender as normas para procedimentos de evacuação, que exigiria a instalação de saídas de emergência no piso, além das laterais da fuselagem.

Ainda assim, a Airbus acredita no potencial do conceito, com o MAVERIC tendo sido lançado em 2017, e tendo voado pela primeira vez em junho de 2019. A campanha de testes de voo está em curso desde então e continuará até o final do segundo trimestre de 2020.

“A Airbus está aproveitando tecnologias emergentes para ser pioneira no futuro do voo. Ao testar configurações disruptivas para aeronaves, a Airbus pode avaliar seu potencial como futuros produtos viáveis??”, afirma Jean-Brice Dumont, vice-presidente executivo de engenharia da Airbus. “Embora não exista um cronograma específico para sua entrada em operação, esse demonstrador tecnológico pode ser fundamental para provocar mudanças nas arquiteturas de aeronaves comerciais para um futuro ambientalmente sustentável para o setor de aviação”, reforça.

Embora a Boeing e, posteriormente, a Lockheed Martin, tenham estudado o conceito nos últimos 20 anos, a maior parte com funções militares, houve a proposta para um modelo cargueiro de elevada capacidade e alta eficiência, mas os estudos não foram capazes de chegar a fase de ensaios em voo. A Airbus afirma que os recentes avanços tecnológicos podem torná-lo mais atraente a curto e médio prazo. A Nasa também trabalha em um estudo similar, através do programa X-48.

Outro desafio dos BWB é seu sistema de controle em voo, considerado extremamente instável e que exige avançados computadores para viabilizar seu voo. O bombardeiro estratégico B-2 Spirit faz uso do conceito de asa voadora, mas seus sistemas de controle são complexos e a única vez que apresentou problemas, o avião caiu durante a decolagem, na base aérea de Andersen, no arquipélago de Guam, em fevereiro de 2008.

A Airbus afirma que atualmente utiliza seus principais pontos fortes e capacidades de engenharia e fabricação, em estreita colaboração com um ecossistema estendido de inovação, para acelerar os ciclos tradicionais de pesquisa e desenvolvimento. O que permite validar conceitos em uma escala e velocidade convincentes, impulsionando sua maturidade e aumentando seu valor.

A Airbus espera que o novo conceito BWB permita atingir as metas de redução de poluição e consumo previstos para 2050, algo praticamente impossível de se obter com os conceitos e tecnologias em uso na aviação comercial.
Fonte: Aero Magzine


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