É fato sabido que, desde pouco mais de 40 anos, o PIB brasileiro cresceu, em média, em torno de 1%, descontado o aumento demográfico. Os analistas dão explicações em geral relacionadas com preço de commodities, eficiência produtiva e ciclos de negócios.
Contudo, há certamente uma causa a merecer análise mais consciente. Numa era de populismos —de direita e de esquerda—, o problema central não é desenvolvimento, mas reeleição, com que assegurar o controle do Estado. E o sistema representativo de governo está consolidando uma crença de que a reeleição fica mais segura com repasse direto de recursos ao eleitor do que com benefícios difusos de um crescimento sempre árduo e duvidoso, em terreno sáfaro. No longo prazo, é como semear tragédia; mas “no longo prazo todos estaremos mortos”, ressalvou Keynes.
Desenvolvimento, entretanto, é tudo. A partir do crescimento do PIB, permite que se contemple toda a gama de carências do indivíduo, da sociedade e do Estado. Numa sociedade industrial, constitui a base da sustentabilidade de um sistema nacional.
Nessa linha, a política externa brasileira não tem como não priorizar o desenvolvimento como objeto precípuo das relações internacionais do Brasil, com o que também contribuirá para maior acomodação social num país radicalizado.
Os atores da política externa tradicionalmente impactam no campo econômico através das próprias escolhas políticas. Na primeira década do século 20, Rio Branco alinhou o Brasil com a estreante proeminência norte-americana no continente, o que estimulou o modelo de capitalismo liberal que aqui se implantou. Mais recentemente, discerniu-se um prolongamento do eixo atlântico para o Pacifico, o que influiu na adoção de rumos que tornaram a China parceiro especial.
Factualmente, atua-se com acordos-quadro, tratados e resoluções de organismos internacionais em matéria econômica, textos estes que consolidam entendimentos.
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O ponto a defender é que aos mecanismos tradicionais da diplomacia devem somar-se à multiplicação de iniciativas econômicas e das gestões correlatas, com ênfase na criatividade e no empreendedorismo público, numa etapa histórica em que Estado e mercado parecem estar aprendendo a conviver —após atravessarem o século 20 limitando-se mutuamente.
Isso implica estratégia global e tópica, pluralidade de projetos de acesso a mercados, parcerias e cooperação, montagem de observatórios, exportação de “expertise” e trocas tecnológicas, num quadro de multiplicidade de atores e de cenários nas relações internacionais.
Dada a amplitude da rede diplomática e consular, o Itamaraty pode igualmente exercer com eficiência um papel de informação dos agentes públicos e privados com relação não só a oportunidades de ação no exterior como à identificação de tendências e cenários econômicos em nível de países, regiões ou internacional, de modo, por exemplo, a sugerir possibilidades de formação de cadeias produtivas de maior valor agregado para o Brasil.
Seria ressignificar o Itamaraty em termos de novos enfoques de acão, mudanças institucionais e logísticas, reaparelhamento administrativo, métodos de gestão diplomática. Imprescindível o concurso dos postos no exterior, cujos chefes são os que detêm conhecimento de terreno, e como tal devem ser respeitados.
Por fim, uma evidência. O Itamaraty é uma corporação de cerca de 1.800 funcionários diplomáticos, sem esquecer as carreiras de apoio. Em contrapartida, as atividades de natureza essencialmente política mobilizam, a cada evento, um número restrito de diplomatas. Isso abre o leque para a maior alocação de recursos humanos em atividades executivas internacionais diretamente relacionadas com desenvolvimento econômico e social.
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