Emicida, MV Bill e Criolo participam de evento sobre educação empreendedora

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“Uma professora, em especial, me salvou na época mais difícil da minha vida, quando meu pai foi assassinado. Ela percebeu que embora tivesse muita dificuldade com o português, tinha grande interesse em histórias em quadrinhos. Então, ela pegou todas as minhas tarefas e transformou em quadrinhos. Hoje, fico pensando o tempo que ela levou para fazer isso, em meio a uma rotina exaustiva, e entendo o tamanho do que fez para minha história”, contou Emicida, durante comemoração dos 10 anos do Programa Nacional de Educação Empreendedora (PNEE) do Sebrae, em evento realizado em Brasília nesta terça-feira (28/11).

Além do rapper, o evento também recebeu outros dois grandes nomes do rap nacional, MV Bill e Criolo, para uma roda de conversa sobre educação, com o ex-governador do DF, Cristovam Buarque, a presidente da Central Única das Favelas (CUFA), Kalyne Lima, e outros convidados especiais, como Dona Vilani, professora e mãe de Criolo. No auditório, estavam gestores, professores e estudantes da rede Sebrae. Entre as falas, Criolo e Emicida se apresentaram em shows acústicos.

O rapper MV Bill compartilhou sua experiência na criação da Central Única das Favelas (CUFA)

“Para fazer rap é preciso ser um conhecedor das palavras e como eu ia fazer isso se parei de estudar tão cedo? Então, os livros foram meus parceiros de aprendizagem. Como a leitura foi libertadora para mim, achei que seria também para a Cidade de Deus, e criamos uma biblioteca comunitária. Tudo começou de forma despretensiosa, como forma de trazer para a minha comunidade aquilo que me ajudou, mas partindo dessa preocupação social”, lembrou MV Bill.

O cantor foi um dos pioneiros do movimento hip hop no Rio de Janeiro e fundador da CUFA. “No rap e na favela, as pessoas são acostumadas a empreender e fazer a autogestão do próprio trabalho. Nunca quisemos substituir o poder público, mas víamos uma lacuna a ser ocupada e a única forma que a gente conhecia de ascensão social era pela educação, então criamos a CUFA pensando em oferecer educação para crianças e jovens das favelas de onde viemos”, disse.

Em show exclusivo, Emicida se apresenta para estudantes do Sebrae-DF

“Como o Bill falou, para nós, existe sempre uma preocupação coletiva em tudo que fazemos, é a intenção de vencer e não vencer sozinho, isso faz parte da cultura hip hop. Antes de escutar Racionais, eu achava que os problemas do meu bairro eram quase pessoais, uma culpa nossa. Foi através das letras do rap que entendi nosso contexto social e entendi que essa luta era coletiva”, completou Emicida.

Na visão de Kalyne Lima, essa consciência de coletividade é justamente uma das potências que só as comunidades periféricas podem oferecer ao país. “A favela tem um povo que sustenta esse país e cria tecnologia todos os dias com quase nada, porque temos algo muito valioso: nós. Existe um plano para nos excluir, então também precisamos ter um plano para a nossa formação, porque ela pode ser um instrumento de ascensão e transformação social”, falou, dirigindo-se aos estudantes da platéia.

Edileide Alves, gerente de relacionamento do Sebrae Nacional, afirmou que, apesar de ser conhecido por sua vertente de negócios, o serviço investe na educação porque entende a formação como fator fundamental para o sucesso do empreendedorismo em comunidades periféricas, como forma de promoção da equidade social. “Ensinar empreender significa ensinar pessoas a realizar, com meta e objetivo tangível. Não está só ligado a abertura de negócios, mas são competências que servem para a vida”, falou.

Criolo se apresenta durante evento de comemoração dos 10 anos do Programa Nacional de Educação Empreendedora (PNEE) do Sebrae

“O Sebrae representa para a sociedade brasileira transformação, inovação. Nós, que viemos de onde viemos, estarmos aqui nesse evento diz muito sobre a visão do Sebrae para educação transformadora nos próximos 10 anos, sobre o conhecimento que eles valorizam e qual querem produzir”, disse Criolo.

Dona Vilani, mãe de Criolo, ressaltou a dificuldade de famílias pobres acompanharem seus filhos durante sua formação escolar, pela carga de trabalho dos pais. A professora aposentada contou que era semi-analfabeta e decidiu retomar os estudos quando não conseguiu mais acompanhar os filhos durante o ensino fundamental. “Nossa formação foi feita juntinhos, uma via de mão dupla, meus filhos e eu estudando nas mesmas escolas, fazendo as mesmas lições”, lembra.

Segundo Cristovam Buarque, a santíssima trindade da educação é a escola, a família e a mídia: “Precisamos educar a mídia para que a mídia seja educadora. A escola precisa ser colocada como a coisa mais fundamental do país. Professores têm que ter uma carreira nacional, com bons salários e formação. A escola deve ser um lugar que os alunos gostam. E as famílias precisam ser alvo de políticas públicas que as suportem para que possam acompanhar seus filhos no desenvolvimento escolar.”

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