Todo recomeço depende de muita força e perseverança. Quem pode assinar embaixo da frase com muita propriedade é a empresária Vanessa Martins, que juntamente do marido controla a oficina mecânica Torigoe, em São Paulo. A primeira grande mudança veio no rumo da carreira. Ela iniciou sua trajetória profissional como nutricionista, mas encantou-se pelo setor automotivo e, depois de passar por alguns obstáculos, optou por trabalhar com o marido. Não bastasse o desafio de mudar de profissão, ela soube enfrentar uma série de intempéries no ramo, entre elas denúncias de um vizinho, queda de mais de 60% no faturamento e três mudanças de endereço em somente um ano.
As dificuldades enfrentadas não foram suficientes para que ela baixasse a cabeça, muito pelo contrário. A superação dos momentos complicados deram a ela ainda mais força para levantar-se e reerguer a empresa.
A mudança de profissão
O início na oficina mecânica ao lado do marido aconteceu depois de muita insistência. “Ele não concordava de jeito nenhum, não queria que eu deixasse a minha carreira, mesmo eu insistindo muito que queria, ele não aceitava”, conta. No período em que ainda trabalhava como nutricionista, ela viu o marido atravessar uma situação complicada, lidando com duas ações trabalhistas. Foi o primeiro impacto que tiveram e a situação serviu para que ela reforçasse ao marido o interesse de entrar na empresa e de inteirar-se melhor do que poderia ser feito para adequar o que fosse preciso internamente, chegou a pedir demissão do emprego, mas ainda assim o marido manteve-se relutante com a ideia dela trabalhando na oficina.
“Fui trabalhar no setor de logística de uma outra empresa e acabava viajando muito. Isso estava dificultando a nossa rotina e, por fim, ele acabou concordando com minha ideia de ir para a oficina. Foi difícil, porque eu trabalhava com meu marido, liderava um monte de homens e estudei bastante sobre o segmento”, detalha.
As transformações na oficina
Se antes o marido tinha dúvidas sobre o ingresso de Vanessa na oficina, hoje ele certamente considera-a fundamental para o crescimento da empresa. Além das mudanças no ambiente e no relacionamento com os clientes, ela conseguiu aumentar a quantidade de clientes mulheres no empreendimento. Tudo parecia ir bem, até o casal deparar-se com uma série de denúncias de um vizinho insatisfeito com as atividades da oficina. Neste período, a empresa passou a lidar com uma rotina de fiscalizações constantes, de diferentes órgãos.
“De 2012 para 2013 foi o pior período, eu não praticamente não gerenciava mais a empresa, ficava por conta das defesas (da empresa), uma atrás da outra”. A oficina ficou em vias de fechar as portas. O lacre do local foi inclusive publicado no Diário Oficial, mas a uma semana disso acontecer, veio a luz no fim do túnel. “Meu marido queria vender a empresa, não tínhamos para onde ir. Mas eu não desisti e tive muita fé. Um dos nossos clientes, vendo a nossa situação, cedeu um galpão para que pudéssemos nos mudar”, conta.
Se por um lado o novo endereço vinha como um alívio, novos problemas surgiram no caminho. Além do local estar em condições precárias, ou seja, era necessário fazer uma obra, um inquilino da parte de trás dos fundos tinha a intenção de montar um outro empreendimento no local e uma nova disputa judicial se desenrolou a partir dali. “Gastamos dinheiro com essa ação na Justiça, demorou para que ele aceitasse sair do local. Além disso ainda tinha a reforma. Nesse meio tempo, perdemos 60% do faturamento, muitos clientes nos viraram as costas, fornecedores imaginavam que a gente estava quebrando e em um ano mudamos de endereço três vezes”, relata.
O renascimento
O período de intensas fiscalizações acabou trazendo alguns bons frutos. Por fiscais da secretaria de meio ambiente, ela e o marido foram indicados para palestrar sobre sustentabilidade, por terem adotado um sistema exemplar. “Elas haviam visitado a oficina para nos autuar, mas percebeu que estava tudo dentro dos conformes e fomos indicados como modelo para o nosso segmento”, conta satisfeita. De acordo com a empresária, a oficina economiza, em média, 70% nas contas de água e de luz com o projeto adotado no local. Além de telhas transparentes, eles deixaram aberturas laterais no telhado que permitem aproveitar melhor a luminosidade natural. Fora isso, o espaço conta com uma cisterna capaz de armazenar 31 mil litros da água da chuva, usada para regar o jardim, nos três banheiros da oficina e para a lavagem da oficina.
Para garantir que a reforma do espaço coubesse no orçamento da empresa e mantivesse o modelo de sustentabilidade, ela conta que fortaleceu a parceria com pessoas da região. “Fizemos praticamente tudo à base de trocas. A empresária que me vendia tintas trazia o carro dela e de outros familiares para fazer revisão na oficina e abatia o preço das tintas para mim. Da mesma forma nós fizemos com outros comerciantes da região, nós conseguíamos desconto no que precisávamos em troca de prestação de serviços”, explica. Os móveis e a decoração da oficina também foram feito com base em materiais recicláveis, como pneus velhos e outros objetos feitos à partir de sucata restaurada. “Com poucos recursos conseguimos criar algo simples e diferente”, ressalta.
Há dois anos instalada na oficina reformada, ela conta com satisfação dos bons resultados que vem alcançando. De acordo com a empresária, o faturamento dobrou e o carro-chefe da oficina é trabalhar com manutenção preventiva. Ela aproveitou a expertise obtida no período em que este tipo de prevenção era obrigatório por lei na cidade de São Paulo e manteve a prestação de serviço mesmo quando a lei caiu. “Eu ajudo meu cliente a evitar que o problema aconteça e ele tenha um prejuízo. Nós monitoramos a média de quilômetros rodados por dia e avisamos a eles quando é necessário trocar uma peça preventivamente”, conclui.
Em tempos de crise – seja na economia do país ou em contextos pessoais – exemplos como o dela servem como referência para não deixar a peteca cair e manter a determinação.
Fonte: Uol