A indígena Katia Silene Tonkyre, primeira mulher cacique da aldeia Akratikatejé, localizada no Pará, será agraciada com o prêmio “A Alma da Ruralidade” por empreender e, ao mesmo tempo, conscientizar sobre a importância da conservação da maior floresta tropical do mundo: a Amazônia. A premiação será concedida pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), que reconhece “líderes da ruralidade das Américas”. O prêmio deverá ser entregue em abril, em evento na Costa Rica, sede do IICA.
Cerca de 3.500 indígenas vivem na reserva indígena Mãe Maria, que possui quase 63 mil hectares de extensão. Katia Silene, de 54 anos, lidera uma das 27 aldeias que a reserva abriga, na qual vivem 85 indígenas de 23 famílias da etnia Gavião da Montanha. O grupo dedica-se principalmente à coleta, produção e venda de castanhas e de pescado, mel e frutas.
Katia é filha do cacique Payaré, um reconhecido defensor dos direitos dos indígenas já falecido que implementou o conceito de empreendedorismo na aldeia e de produção sem agredir a natureza. O método do finado líder indígena favoreceu a comunidade com a organização, a coleta e a produção de castanhas, maracujá, açaí, cacau, cupuaçu e outras frutas amazônicas, além de mel, animais e criação de peixes — o que gera empregos e receitas. Katia manteve vivo o legado do pai.
“Eu não concordo quando alguém diz que é necessário destruir a floresta para criar gado ou investir em soja. Nós queremos alcançar um projeto sustentável e queremos crescer, mas não destruindo à natureza. Nós valorizamos os nossos produtos. Não é necessário destruir. É possível conciliar as duas coisas, fazer o projeto e manter a floresta em pé, utilizá-la. A floresta nos dá uma farmácia verde e rica, temos os nossos animais e temos a nossa floresta”, afirma a indígena.
Os indígenas da aldeia montaram uma fábrica e uma cooperativa para processar e comercializar a castanha do Pará. A cacique está buscando auxílio público e do setor privado para melhorar o abastecimento de energia elétrica (de monofásica para trifásica) para a aldeia, para que seja possível operar máquinas que permitam consolidar uma produção de 20 toneladas por colheita.
“O nosso caminho é produzir de forma sustentável. E cumprir o sonho de meu pai, o cacique Payaré, de um povo Akratikatejé autônomo, com a floresta de pé. Somos fortes. Na região, não há indígenas vivendo na rua, nem querendo sair da aldeia, pois a nossa terra é rica. Temos frutas, área para plantar e trabalhar com a agricultura. Temos mel em quantidade e copaíba. Somos um povo abençoado, muito rico, e a nossa riqueza é a floresta de pé. Não há necessidade de nenhum indígena ir embora. Temos uma matéria sustentável e muita riqueza em nossa floresta”, destaca Katia Silene.
Katia frisa que os povos indígenas se veem interligados com a natureza. Se a floresta é devastada, eles são impactados diretamente também. “Tudo o que fazemos é caminhar para um futuro melhor, saudável e com uma boa vida. Queremos que os jovens valorizem o território e a nossa floresta, que não precisamos derrubar, tirar madeira ou ouro, pois temos outras riquezas. Eu aprendi com o meu pai a cuidar do futuro, a me preocupar com o amanhã. Quebrei um protocolo, porque as mulheres não podiam ser caciques, devido a modelos ultrapassados. Nós, mulheres, estamos conquistando cada vez mais espaços, e devemos continuar fazendo a diferença para que as coisas funcionem”, pontua.
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