O comércio exterior brasileiro em contêineres desaqueceu em 2014, num quadro de lenta recuperação das trocas internacionais, mesmo assim, o grupo Libra, especializado em logística portuária integrada, reviu para cima os números e irá investir R$ 800 milhões no porto de Santos (SP). A empresa aposta em um novo ciclo de crescimento dos volumes e aumento da inserção do Brasil na economia mundial. A última cifra do projeto estava em R$ 760 milhões.
O investimento da companhia, que realizou o primeiro arrendamento de terminal de contêineres na década de 1990, em Santos, irá dobrar a capacidade de movimentação no cais santista, onde está seu maior negócio – e a mais acirrada concorrência entre terminais de contêineres. São seis ao longo do canal de navegação.
O aporte integra um plano de R$ 2 bilhões de investimentos de 2014 a 2019 em infraestrutura, logística e tecnologia da informação (TI) voltada ao comércio exterior. O conglomerado empresarial, 100% controlado pela família Borges Torrealba, reúne outros tipos de negócios, como empresa de navegação e de produção de azeite.
O presidente do grupo, Marcelo Araújo, afirma que em quase todos os portos do Brasil o volume de comércio exterior – medido pela movimentação de contêineres cheios – está caindo. “Santos só está aumentando por conta do transbordo [transferência do contêiner entre navios, geralmente para reposicioná-lo]”. Neste ano, o resultado do grupo deverá ficar “ligeiramente” acima de 2013, quando o lucro líquido foi de R$ 149 milhões. O principal braço da companhia – a Libra Terminais, com 71% da receita bruta – deverá registrar queda de volumes, mas o mix diferente de serviços levará o faturamento da unidade a ficar estável ou ter pequeno crescimento. Devido à frustração com os volumes do segundo trimestre, a companhia ainda não fechou o planejamento de 2015, o que normalmente ocorreria em agosto. “Atrasamos um pouco para ter os dados um pouco mais precisos”, diz Araújo.
A queda maior deverá ocorrer na operação portuária de Santos, onde o aumento da concorrência, com a inauguração dos terminais BTP e Embraport em 2013, provocou um rearranjo das linhas de navegação no porto e reduziu os preços dos serviços cobrados pelos terminais. Desde 2011, os preços da Libra em Santos caíram de 25% a 30%.
Mas o aumento da competição não mudou os planos da empresa. “Estamos nos preparando para esse momento há cinco anos. A demanda vai aumentar. Nosso horizonte em Santos é de mais 20 anos, em serviços cada vez mais customizados”, diz Araújo.
Desde 2008 no cargo, o executivo ajudou a talhar o grupo para, se necessário, abrir capital para financiar novos investimentos. Os R$ 800 milhões para Santos já estão equacionados dentro da atual estrutura financeira. Não demandariam, portanto, a ida ao mercado aberto.
O projeto é dobrar a capacidade anual de movimentação da Libra Terminais Santos de 900 mil Teus (contêiner de 20 pés) para 1,7 milhão de Teus, aproximando a empresa dos três maiores terminais de contêineres de Santos: Tecon Santos, Embraport e BTP. Para realizar o investimento, a companhia pediu ao governo a antecipação da renovação de seus três contratos no porto de Santos, que seriam integrados num só com vencimento em 2018 prorrogável por mais 20 anos. Mas o governo tenta, primeiro, equacionar o passivo da empresa junto à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) pelo não pagamento integral de tarifas à estatal referentes à exploração de um dos terminais, o T-35.
A Libra deixou de pagar os valores integrais porque diz que recebeu a área em desconformidade com o previsto no edital de licitação. Passou, assim, a fazer depósitos em juízo a partir de um acordo firmado em 2005. Em 2013, o contrato do T-35 respondia por 92% do volume total de contas a receber da Codesp, que ficou em R$ 1 bilhão.
A Codesp reconheceu diferença entre o edital e o terminal que entregou à arrendatária, o que deve puxar esse número para baixo. As partes negociam um acordo desde 2010 que prevê uma nova equação tarifária. No início do ano, a União quase bateu o martelo, mas o processo estagnou.
Agora, o Planalto teme o risco político de antecipar a renovação sem um acordo para equacionamento do passivo, já que a Lei dos Portos impede a prorrogação do prazo com empresas inadimplentes. “Pagamos em juízo, não estamos inadimplentes”, diz Araújo.
Fonte: Blog Jornal dos Jornais