Não perguntem o porquê, mas o Relatório Reservado é insider do pensamento e da psicologia de Eike Batista (foto). O RR pode afirmar que nunca houve dolo no comportamento do empresário. Eike é um baita financista e um gênio do convencimento, mas é megalomaníaco e infantilizado. Seu próprio pai, Eliezer Batista, sempre mostrou compreensível preocupação com esse lado “criança” de Eike, não obstante a enorme admiração que nutre por ele. O filho, por sua vez, nunca escondeu uma freudiana competição com Eliezer, um reconhecido gigante da vida pública. Um registro desse fetiche encontra-se no depoimento dado ao filme “O Engenheiro do Brasil”, documentário sobre o ex-presidente da Vale.
Os cinco crimes como gestor e acionista dos quais Eike Batista é acusado podem ser explicados por essa patologia. Sua irresistível vontade de aparecer se tornou ainda mais hiperbolizada depois que Mr. X se convenceu de que a superexposição o blindaria até de atentados à sua pessoa física. Eike é o centro do seu próprio mundo; o dinheiro, sua devoção. Se alguém tem dúvida, basta constatar que, a partir da vitória contra a Petrobras na conturbada venda da “TermoLuma”, o empresário passou a falar quase todo dia na imprensa. No início, todos os assessores de Eike achavam graça, mas com o tempo passaram a demonstrar preocupação. Dos colaboradores mais íntimos, Flávio Godinho era quem mais externava seu temor. O próprio Rodolfo Landim, que depois foi pivô de um confronto sem volta com Eike, chegou a falar com ele várias vezes para que tomasse cuidado. O ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães saía das reuniões do Conselho da EBX e descia até o restaurante Alcaparra, logo embaixo da sede da companhia, para tomar um drink e amenizar a ansiedade. Raphael lia o clipping sobre as torrenciais declarações do empresário e dizia que nunca viu um ego tão autocentrado no mundo dos negócios.
A incontinência verbal de Eike serviu bem aos acionistas minoritários, seus principais carrascos na Justiça, enquanto o mercado sancionava os projetos. Ninguém reclamou do que ele dizia. Hoje, queixam- se de que ele não foi tão rigoroso nas análises, notadamente em relação ao petróleo comercial, antes de colocar a boca no mundo. Mas o RR afirma que ele não inflou artificialmente seus ativos, e, novamente, não nos perguntem por que sabemos. O preço desse falatório desatinado agora são os supostos crimes de falsidade ideológica, formação de quadrilha e indução do mercado ao erro. Seria bom que os juízes analisassem o procedimento pregresso do empresário e verificassem como na última década ele falou, falou, falou, incansavelmente. E teve toda a mídia do mundo. Narcisismo e inconsequência paroxísticos? Com certeza. No entanto, sem motivação criminal. O RR garante, mas não perguntem o porquê.
Fonte: Blog IG Relatório Reservado