Senador do MDB que apoiou Bolsonaro adere a Boulos e leva histórico polêmico

Alexandre Giordano, senador de São Paulo pelo MDB, está engajado na eleição para a Prefeitura de São Paulo —mas no time oposto ao do colega de partido Ricardo Nunes. O congressista levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas e rompimentos na política.

Giordano, empresário que era suplente e herdou a cadeira após a morte de Major Olímpio (PSL) por Covid em 2021, é desafeto de Nunes e circula com o psolista desde o ano passado em agendas na capital. Estava, por exemplo, no palanque da filiação de Marta Suplicy ao PT, no mês passado.

Giordano, porém, não foi anunciado no ato em que a ex-prefeita retornou ao partido para ser vice de Boulos, numa articulação de Lula (PT). Ele ficou na lateral do palco, a poucos passos do presidente, a quem passou a apoiar e agora acompanha nas agendas em São Paulo.

O senador já foi do partido de Jair Bolsonaro quando o ex-presidente estava no PSL, mas se distanciou dele e de seu grupo ao se tornar senador. Também foi filiado ao PSDB por influência de Bruno Covas, de quem era amigo, mas não se entrosou com Nunes.

Com a morte de Covas, em maio de 2021, Nunes virou prefeito —e começaram as rusgas com Giordano. O emedebista teria se irritado com o senador por ele ter dito em entrevista à revista Veja São Paulo que “engrossaria o caldo” de Nunes, dando a entender que o MDB tomaria conta da gestão de Covas.

Auxiliares do prefeito contam que Giordano foi recebido por Nunes em apenas uma ocasião e teria insinuado interesse em contratos de varrição, o que desagradou ao mandatário. O senador afirma que não tratou desse tema com o prefeito e que esteve com ele ao menos três vezes na sede da prefeitura.

O rompimento ficou escancarado quando o senador decidiu abrir uma dissidência no MDB em 2023 e se lançar pré-candidato à prefeitura. Na época, Nunes reagiu com desdém: “Quem é Giordano?”, perguntou a repórteres que repercutiam o caso.

Padrinho de Giordano no MDB, o ex-presidente Michel Temer demoveu o senador da ideia, mas o episódio lhe rendeu uma barganha: não seria candidato, mas tampouco apoiaria o nome escolhido pela legenda.

Nunes diz à Folha que pediu ao presidente do MDB, Baleia Rossi, que expulsasse Giordano por causa da aliança com Boulos, mas ouviu que não era o momento. A importância de uma cadeira a mais no Senado para o MDB diminui as chances de retaliação, mas emedebistas afirmam que o colega está isolado na legenda e até esperam que ele saia ou se licencie.

Apesar da trajetória curta no Congresso —ele assumiu o mandato em março de 2021, cinco meses antes de migrar para o MDB—, o empresário acumula uma lista extensa de adversários e acusações que envolvem seu nome.

O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.

Políticos que conviveram com Giordano ou que acabaram se envolvendo em disputas contra ele o descrevem como um lobista —pecha que ele rejeita— que já levou aos governos estadual e municipal sua intenção de participar de contratos de coleta de lixo e aterros sanitários.

Em resposta, o senador diz que nunca atuou na área pública no ramo de resíduos.

Depois de passar fome e começar a vida vendendo cachorro-quente aos 13 anos, segundo conta, Giordano é hoje sócio em sete empresas com atuação variada: estruturas metálicas, mineração, imóveis, coleta de resíduos, terraplenagem, distribuição de energia elétrica, reciclagem, hotel fazenda e outros.

Em 2018, ele declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral, entre participações nas empresas, veículos e jet skis.

O entorno de Nunes considera que a migração do senador para o time rival tem a ver com interesses empresariais que não foram atendidos pelo prefeito ou que Giordano prospecta no governo federal.

Questionado sobre as suspeitas que o cercam e o potencial dano de seu apoio para a campanha de Boulos, o senador diz que o que existe contra ele são “historinhas e não fatos”.

“Não existe nada com materialidade. Querem inventar história para colocar uma pedra no caminho do Boulos. A minha história é a de um bom homem, um bom empresário.”

Membros da pré-campanha de Boulos tratam Giordano como um apoiador, mas evitam atribuir a ele algum papel especial. Atuante na zona norte, ele participou de encontros do deputado federal na região, mas não ganhou uma função específica no comitê.

Apesar do trunfo de contar com um colega de partido do prefeito, a pré-candidatura do PSOL descarta por ora explorar isso para desgastar Nunes. Nos bastidores, a presença do senador é respeitada, mas sua força política é posta em xeque —ele não foi votado diretamente e tem elo frágil com a esquerda.

Em sua página no Instagram, onde posta fotos com o deputado em visitas a hospitais e acampamentos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Giordano já homenageou, por exemplo, Bolsonaro e Olavo de Carvalho, guru da direita brasileira.

Num encontro sobre moradia em 2023, ao lado de Boulos, o emedebista disse que sua credibilidade poderia ser atestada pelo pré-candidato, a quem chamou de “meu companheiro, meu amigo”. Ao resumir os motivos que o aproximaram do psolista, costuma repetir: “Bateu o santo com esse cara”.

Giordano diz que foi ele quem procurou Boulos para uma conversa e, ao conhecê-lo, percebeu logo uma afinidade, com visão comum para problemas sociais. À Folha o senador diz enxergar em Boulos, e não no ex-vice de Covas, os ideais do tucano —e afirma que o postulante do PSOL vai vencer a eleição.

Segundo Giordano, seu papel é ajudar a mudar a imagem de Boulos entre empresários e comerciantes. “É uma classe que entende que ele é um invasor. Boulos nunca invadiu a casa de ninguém. Ao contrário, ele tem visão de empreendedorismo para São Paulo.”

Aliados de Nunes minimizam o apoio do senador a Boulos, lembrando que Giordano não tem base própria. Mas, para o senador, seu capital não é eleitoral —sua função é atuar nos bastidores.

Giordano se define como um político de centro, crítico do flá-flu que se tornou a política brasileira. Ele próprio, porém, passou da base de Bolsonaro, a quem apoiou em 2018, para a de Lula pouco antes da eleição de 2022.

“Minha inteligência me levou mais ao acerto do que ao erro. Eu olhei e falei: Lula vai ganhar. O cosmo conspirou a favor. Eu tinha certeza”, diz sobre a eleição mais apertada desde a redemocratização.

Para Giordano, Nunes “saiu do centro e foi para a extrema direita” ao comparecer ao ato de Bolsonaro no domingo (25). “Ele escolheu um lado. E o Bruno [Covas] odiava o Bolsonaro.”

Polêmicas de Giordano e o que ele diz

Gastos no Senado

O Ministério Público Federal pediu que o STF (Supremo Tribunal Federal) intime o senador após apurar que Giordano gastou R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um dia, o que daria para abastecer mais de 12 veículos. A assessoria do senador diz que a despesa corresponde a dias variados, mas foi faturada na mesma data.

Itaipu

Giordano foi personagem de uma crise diplomática relacionada ao acordo entre Brasil e Paraguai para a compra de energia de Itaipu. Giordano esteve no Paraguai com executivos da empresa brasileira Léros e participou de negociações para a venda de energia excedente a essa firma. As investigações apontam que ele mencionou a família Bolsonaro para se credenciar. Giordano nega que tenha falado em nome de Bolsonaro e que tenha atuado como lobista de Léros, pois ele próprio tem empresas que poderiam entrar no negócio.

Aluguel de sala a Olímpio

Giordano ajudou Major Olímpio a estruturar o PSL em São Paulo, sendo que a sede do partido funcionava no mesmo prédio do escritório do empresário, na zona norte. Na campanha de 2018, o comitê de Olímpio funcionou no escritório e pagou R$ 6 mil a uma empresa de Giordano pela locação. Há quem diga que Giordano financiou a campanha de Olímpio, mas ele nega e explica que deu apoio operacional apenas.

Ceagesp

Quando presidente do Ceagesp, o bolsonarista Ricardo Mello Araújo acusou Giordano de querer entrar no entreposto, fazendo indicações para cargos e pedindo para que uma licitação de coleta de lixo fosse direcionada para sua empresa. O senador diz que queria instalar um programa de sopão no local, mas Araújo impediu. Ele prestou queixa contra Araújo por crimes contra a honra e diz que jamais quis interferir em licitações. Giordano afirma que, pelo contrário, alertou Araújo sobre como economizar R$ 800 mil ao mês no contrato de lixo.

Porto de Santos

Giordano encaminhou ao Ministério de Portos e Aeroportos uma lista de denúncias com casos supostamente de corrupção e propina envolvendo Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS). A atitude do senador foi considerada retaliação à demissão de um aliado dele na APS, que nega as acusações de corrupção e vai processá-lo por denúncia caluniosa e abuso de poder. Giordano diz que não tinha indicados na APS e que apenas pediu explicações depois de ter recebido um dossiê com as acusações.

Empresa transferida a ex-funcionário

A Polícia Civil de São Paulo, segundo o portal Metrópoles, investiga Giordano por ter transferido uma de suas empresas para um ex-funcionário, que reconheceu suas assinaturas nos documentos da movimentação, mas disse não ter conhecimento de que era sócio da firma, que tem uma dívida cobrada na Justiça. Giordano diz que o funcionário sabia da transferência, que foi feita para quitar sua rescisão.

Semana delas: Empoderamento feminino toma conta do roteiro cultural de Washington, DC

Semana delas: Empoderamento feminino toma conta do roteiro cultural de Washington, DC (A cidade também é sede do primeiro e único museu do mundo dedicado exclusivamente a defender as mulheres através das artes, o Museu Nacional das Mulheres nas Artes (NMWA). (Foto: Divulgação))

O Dia Internacional das Mulheres é único, mas não no calendário de Washington, DC. Durante o ano todo, e não apenas no dia 8 de março, o empoderamento feminino é lembrado em museus, exposições e eventos protagonizados ou inspirados em mulheres influenciadoras e empreendedoras, que ganharam relevância ao longo da história e na atualidade.

Washington, DC é reconhecida por apoiar causas sociais e humanitárias e não ficou indiferente na luta pelos direitos civis e políticos das mulheres – do primeiro movimento sufragista, em 1913, à Marcha das Mulheres que em 2017 trouxe à tona questões ambientais, trabalhistas, das desigualdades raciais e de gênero. A cidade também é sede do primeiro e único museu do mundo dedicado exclusivamente a defender as mulheres através das artes. Reaberto recentemente após renovação, o Museu Nacional das Mulheres nas Artes (NMWA) tem uma coleção com mais de 6.000 obras que datam do século XVI aos dias atuais.

LEIA TAMBÉM: Que tal um passeio pelo charmoso Chelsea em Nova York?

Um bom número de museus da cidade aborda a temática em diferentes momentos da história. No Museu e Arquivo das Filhas da Revolução Americana (DAR) é possível encontrar biografias, correspondências e fotografias de mais de 40 ativistas americanas. O acervo também pode ser conhecido em tours virtuais. O National Portrait Gallery, mais conhecido por retratar os presidentes americanos, tem uma sessão dedicada a algumas das mulheres mais icônicas da América, como a ex-primeira-dama Michelle Obama; no terceiro andar há uma exposição permanente denominada Bravo! Que retrata lendas das artes cênicas como Ginger Rogers e Alla Nazimova.

Ketanji Brown Jackson Mural (Foto: Divulgação)

Exposições em cartaz

Fora as atrações permanentes, Washington, DC tem em cartaz neste momento algumas exposições, peças de teatro e outras programações que destacam as realizações, a arte e a história de mulheres americanas:

Tem em andamento uma exposição em homenagem, às mulheres inventoras que foram negligenciadas ou subvalorizadas na sociedade norte-americana.

Apresenta até o dia 31 de março uma exposição com cerca de 100 imagens captadas pelas lentes de Dorothea Lange, um ícone da fotografia mundial que retratou a história de camponeses e imigrantes durante a Grande Depressão, em 1929.

É possível ver obras da pintora Alma Thomas. Esse museu possui a maior coleção pública da arte de Thomas e até o dia 2 de junho oferecerá uma visão íntima de sua evolução criativa de 1959 a 1978 por meio de peças coloridas exclusivas.

Retrata até o dia 17 de março a força feminista negra personificada na professora Anna Julia Cooper que lutou pela equidade e legitimidade educacional na virada do século XX.

LEIA TAMBÉM: Rockefeller Center: um complexo turístico e de negócios com a essência de Nova York

Em Washington, DC também é possível conferir mais exemplos do empoderamento feminino em um tour de 48 horas que propõe visitas ao Monumento Nacional da Igualdade Feminina de Belmont-Paul; Museu Nacional de História Americana Smithsonian; ao Memorial das Mulheres do Vietnã – uma exibição dedicada às mulheres que arriscaram suas vidas para servir ao país durante a Guerra do Vietnã como enfermeiras, médicas, controladores de tráfego aéreo, especialistas em comunicação e oficiais de inteligência; ao Cemitério Nacional de Arlington que abriga o único memorial nacional em homenagem aos três milhões de mulheres que defenderam a nação desde a Revolução até os dias de hoje; à Casa do Conselho de Mary McLeod Bethune, uma educadora e líder inspiradora reconhecida como a primeira mulher negra a servir como presidente de faculdade e chefiar uma agência federal.

Vietnam Women’s Memorial (Foto: Divulgação)

Não deixe a cidade sem conhecer o Ben’s Chili Bowl, um ícone da gastronomia local mais casual que há 60 anos é comandado por Virgínia Ali. Se tiver sorte, pode ter a oportunidade de experimentar uma das especialidades feitas pela própria Virgínia, outro símbolo do empreendedorismo feminino mais genuíno em Washington, DC.

Mulheres no comando

Washington, DC está repleta de negócios prósperos que foram fundados e até hoje são comandados por mulheres:

Laurie Gillman é a proprietária que transformou o espaço em ponto de encontro da comunidade, onde reúne autores locais e independentes e promove clubes do livro. A livraria também oferece uma seleção de itens para presente, incluindo kits especiais anti-racismo, com a curadoria de Keian Mayfield, uma pesquisadora especialista no tema.

Virgínia Blanca Arrisueño começou como incubadora pop-up para designers e marcas independentes. O conceito voltado para a comunidade derivou da educação latina de Arrisueño, do sucesso empresarial da família, dos interesses de sua mãe e de seu pai e de sua própria experiência como designer de moda. A mesma missão se aplica no The Yards, que oferece presentes exclusivos de uma variedade de fabricantes, incluindo velas, livros, joias, utensílios domésticos e itens artesanais.

A consultora empresarial comunitária Stacy Price, defensora dos artesãos locais, juntou-se a Michael Babin, do Neighborhood Restaurant Group, para lançar o conceito Shop Made in DC, que agora conta com vários locais em que se pode comprar de tudo, de cidra a obras de arte originais, joias, produtos para casa e souvenirs.

Shop Made in DC (Foto: Divulgação)

Alexes Haggins dá continuidade ao legado de seu pai, Bernard Haggins que começou como entregador e tornou-se proprietário da floricultura que já soma décadas de história familiar.

Quando Toni Tomlin sentiu os efeitos da pandemia, ela se voltou para sua fé e o poder dos cristais. Assim começou a espalhar seu conhecimento e experiência online, depois por meio de pop-ups locais e agora em sua loja em National Harbor.

Uma livraria boutique móvel que se descreve como “feita por e para pessoas de cor”. A proprietária, Angela Maria Spring, é poetisa, editora, jornalista latina e livreira há quase duas décadas. Suas lojas oferecem uma seleção com curadoria dos melhores livros novos para adultos e crianças em inglês e espanhol.

LEIA TAMBÉM: Saiba quando e onde ver a florada das cerejeiras em Washington, DC

Quando trabalhava na Casa Branca, Cameron Hardesty ansiava por uma saída criativa e começou a se voluntariar na floricultura. Quando estava noiva, descobriu que uma cadeia de suprimentos desatualizada e ineficiente fazia com que os florais de eventos fossem superfaturados. Foi quando criou a startup floral. O mercado online conecta clientes a flores com preços justos.

O diferencial de Jessica Shea é vender caixas de presente produzidas com itens de empresas locais ou de propriedade majoritariamente feminina.

O que começou há 30 anos como uma loja de chapéus na Union Station agora se tornou uma sensação em DC. Anna Fuhrman’s Topper Adequado oferece caixas de presente com curadoria, itens infantis, presentes inspirados em DC e, claro, muitos chapéus. A loja oferece uma vasta gama de produtos de moda, alimentação e acessórios criativos.

Quando começou sua empresa, Irene Barbieri queria criar um conceito novo para a compra de joias e idealizou a Mia Gemma. O mercado on-line traz uma variedade de peças únicas e inéditas desenhadas por artistas locais.

Suas raízes remontam a 1976 na cidade de Nova York, onde a jovem Sunyatta Amen aprendeu o valor medicinal de chás, alimentos e temperos de todo o mundo enquanto trabalhava na loja de produtos naturais e no bar de sucos dos pais. Hoje tem um negócio próprio que oferece 100 misturas de chá e café, tônicos aromáticos e guloseimas veganas e café com atendimento online.

Para saber mais sobre Washington, DC acesse o site.

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Semana delas: Empoderamento feminino toma conta do roteiro cultural de Washington, DC

Semana delas: Empoderamento feminino toma conta do roteiro cultural de Washington, DC (A cidade também é sede do primeiro e único museu do mundo dedicado exclusivamente a defender as mulheres através das artes, o Museu Nacional das Mulheres nas Artes (NMWA). (Foto: Divulgação))

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Washington, DC é reconhecida por apoiar causas sociais e humanitárias e não ficou indiferente na luta pelos direitos civis e políticos das mulheres – do primeiro movimento sufragista, em 1913, à Marcha das Mulheres que em 2017 trouxe à tona questões ambientais, trabalhistas, das desigualdades raciais e de gênero. A cidade também é sede do primeiro e único museu do mundo dedicado exclusivamente a defender as mulheres através das artes. Reaberto recentemente após renovação, o Museu Nacional das Mulheres nas Artes (NMWA) tem uma coleção com mais de 6.000 obras que datam do século XVI aos dias atuais.

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Suas raízes remontam a 1976 na cidade de Nova York, onde a jovem Sunyatta Amen aprendeu o valor medicinal de chás, alimentos e temperos de todo o mundo enquanto trabalhava na loja de produtos naturais e no bar de sucos dos pais. Hoje tem um negócio próprio que oferece 100 misturas de chá e café, tônicos aromáticos e guloseimas veganas e café com atendimento online.

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Dia Internacional da Mulher: conheça 7 profissionais de sucesso

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Uma data para celebrar conquistas. O Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, rememora a luta pela inclusão produtiva de trabalhadoras e pelo avanço de seus direitos econômicos, trabalhistas, políticos e sociais.

A data, nascida em meio a movimentos operários do início do século XX, capitaneados por mulheres, foi oficializada em 1975 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e reforça as vitórias dos movimentos feministas para a promoção da igualdade de gênero e cobra a ampliação da equidade no mundo do trabalho.

Para reconhecer o pioneirismo de mulheres que abrem portas e caminhos para um Brasil melhor por meio de sua atuação profissional, o Correio conta a história de sete profissionais de sucesso. São figuras públicas e anônimas, negras e brancas, consagradas ou no início da carreira, de diferentes áreas, que representam tantas outras trabalhadoras. São Conceição, Marise, Neiva, Raquel, Carla, Sarah e Ana — mulheres que revolucionam seu mundo e mostram, cotidianamente, que a contribuição feminina para o mercado de trabalho não é uma concessão, mas uma necessidade.

Escrita do Brasil pelo mundo

A escritora Conceição Evaristo toma posse com artitas nomeados na Academia Brasileira de Cultura

“Quem nos dá o status de artista é o público. Eu não me consideraria escritora se a minha escrita não tivesse ressonância. Entendi quem era à medida que ganhei meus leitores, que, aliás, são muito diversos, são negros, brancos, jovens, pessoas mais velhas, não só no Brasil, mas no estrangeiro”, afirma Conceição Evaristo.

Uma das mais importantes e prestigiadas vozes da literatura contemporânea brasileira, Conceição encontrou não apenas seu público, mas um lugar na história do país. Na próxima semana, aos 77 anos, se torna uma imortal da Academia Mineira de Letras (AML).

Com três romances publicados, sua produção é também constituída de poemas, contos e ensaios, e em grande parte traduzida para o inglês, francês, árabe, espanhol, eslovaco e italiano. Em 2015, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria contos e crônicas pelo livro Olhos D’água e, em 2019, foi a grande homenageada da premiação como personalidade literária, entre tantas outras nomeações.

Nascida em Belo Horizonte, migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970, onde estudou letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro e se formou doutora na Universidade Federal Fluminense. Dedicou a prolífera carreira como acadêmica e educadora à área de linguística.

Publicada pela primeira vez aos 44 anos, conta que começou a escrever desde menina. “O que me levava a escrever antes do encontro com o público era a incapacidade de cantar ou dançar. Se tivesse esse dom, ia me libertar por meio da música, aí eu iria ser insuportável”, brinca.

Conceição diz que a literatura é a senha pela qual acessa o mundo e que a escrita e a leitura são seus espaços de indagar o sentido da vida. Por isso, criou o conceito de “escrivivência”, que significa uma escrita feita a partir da vivência de mulheres negras que rejeitam o papel de servidão que a sociedade quer impor a elas. Conceição explica que o termo rememora as mulheres negras escravizadas que eram obrigadas a contar histórias para a prole escravizadora. “Hoje, a autoria negra não tem mais essa função, não é para adormecer a Casa Grande, e, sim, para acordá-la de seus sonhos injustos. Somos donas da nossa escrita, do nosso conteúdo. Esse é um fundamento histórico e ancestral, é a fala dessas mulheres que potencializa nossa escrita hoje, livre.”

Conceição fala que muitos críticos literários não consideram como literatura aquela produzida por grupos sociais subjugados. “A literatura negra é sempre colocada em dúvida, questionam se estamos fazendo ou não arte. Mas minha literatura é capaz de conquistar as pessoas em suas humanidades, sejam quem forem, mesmo isso passando pela minha experiência marcada por uma condição afrodiaspórica, por uma memória de subjugação. Falo de um local particular, mas ela é capaz de mobilizar por trazer personagens cujos dramas e fraquezas revelam a inteireza humana”, argumenta.

Segundo ela, a escrita também é uma forma de vingança. Criada sem pai, nascida na periferia, a escritora alcançou os espaços que as patroas de sua mãe lhe negavam. “Vim de uma realidade que não me colocaria nesse lugar. A sociedade brasileira não espera que uma mulher negra possa ser escritora, intelectual. Sou uma escritora que vende, e isso me coloca em outra classe, hoje, mas não me faz esquecer que ocupo um lugar de exceç

.

Marise Ribeiro Nogueira, 59 anos, foi a primeira mulher negra egressa do programa de ação afirmativa do Itamaraty. Diplomata há 20 anos, atualmente é ministra conselheira da embaixada brasileira no Panamá. Filha de um torneiro mecânico e de uma auxiliar administrativa, viu a família se incluir socialmente por meio do serviço público, que abraçaria anos mais tarde.

Assistiu de perto, também, os avanços da diplomacia brasileira em direção à inclusão: quando entrou para a carreira, os profissionais negros (pretos e pardos) correspondiam a apenas 1% dos quadros, hoje, são cerca de 15%.

Segundo ela, pessoas negras têm se beneficiado de ações afirmativas, como o programa do qual participou e que oferecia bolsas para que candidatos negros pudessem se dedicar aos estudos para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, e, mais tarde, das cotas no serviço público, mas a melhora é tímida e lenta.

“Represento a vitória. Rompi com a invisibilidade, contribuo com a diminuição da sub-representatividade, mas para nós, mulheres negras, ainda há um teto de concreto para o ingresso em carreiras de alto escalão do serviço público. Ou seja, sou vitoriosa, mas não quero que essa vitória seja só minha, até porque é um peso muito grande. A diplomacia é uma carreira de grande prestígio, mas também de grande demanda e responsabilidade. Quando a gente representa um grupo social, isso fica ainda mais pesado. Se você erra, é como se toda aquela categoria errasse, e acertar sempre é impossível para humanos”, afirma.

Carioca, Marise se formou médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez um mestrado na área de radiologia e trabalhou por anos na profissão, mais dois intercâmbios, na Alemanha e na França, a fizeram tomar gosto pela vida no exterior. O desejo de ver mais afro-brasileiros atuando na política internacional foi o ponto de virada para a transição de carreira.

Antes do posto no país da América Central, foi lotada em Brasília, quando também exerceu cargos no governo federal e distrital, em Lima, Buenos Aires e Estados Unidos. Sempre de mudança, Marise ainda é mãe de três meninas, que criou entre um país e outro. “É difícil conciliar carreira com maternidade em qualquer profissão, mas a carreira diplomática cria dificuldades extras. Quando saí do Rio, perdi toda minha rede de apoio, e quando saí do Brasil, o desafio foi ainda maior, porque toda família teve que se adaptar à nova cultura. Não é à toa que entre famílias do serviço internacional, um cônjuge é o provedor e o outro o cuidador, e o cuidado, obviamente, costuma recair mais sobre as mulheres”, conta.

Neiva Guedes é uma das cientistas responsáveis pela preservação das araras azuis

Neiva Guedes é uma das principais pesquisadoras de araras-azuis do país e grande responsável pela preservação da espécie. Nascida em Mato Grosso do Sul e formada bióloga pela Universidade Federal do estado, é doutora em ciências biológicas pela Universidade Estadual de São Paulo.

Aos 62 anos, continua a lutar pela causa pela qual dedicou sua vida. Presidente do Instituto Arara Azul, a professora conta que seu amor pela natureza se agigantou quando viu o animal pela primeira vez, livre, e soube que a espécie estava ameaçada de extinção. “Sempre digo que foi paixão à primeira vista. Não tinha como não me encantar com aquele ser curioso, de um azul cobalto degradê da cabeça até a cauda, com amarelo ouro no entorno dos olhos e da mandíbula. Então, a partir daquele momento que a vi, decidi estudá-la e fazer de tudo para que não desaparecesse.”

Estudando a biologia reprodutiva das araras, Neiva descobriu que faltavam lugares para que se reproduzissem e, então, começou a testar diferentes materiais para confecção de ninhos. A cientista criou uma caixa de madeira da qual as aves gostaram e passaram a usar imediatamente. “Usamos essas caixas até hoje. Já instalamos mais de 800 no Pantanal e no Cerrado. Também recuperamos ninhos naturais que estejam se perdendo. Trabalhamos com ecologia, genética, comportamento, alimentação… E não só da arara-azul, mas de outras espécies que ocorrem ou interagem com ela no mesmo habitat”, explica, pontuando de que forma o instituto vem revertendo a sentença de extinção dos animais.

“Enfrentei muitos desafios. Passei noites em claro, rodando nas estradas ou no campo. Muitas picadas de pernilongos e carrapatos. Muito sol, calor ou frio. Abri mão de muitas coisas. Tive uma vida muito agitada. Me casei, tenho uma filha, atualmente com 21 anos, e quando ela era pequena foi difícil, mas tive apoio da família e consegui me organizar para cuidar da casa, da família e do projeto”, lembra.

Raquel Reis é uma das fundadoras do Mulheres em Dados, maior coletivo de mulheres da área de TI do país

Raquel Cardoso Reis tem apenas 30 anos e uma carreira internacional. Formada em engenharia elétrica pela Universidade de Brasília, iniciou no mundo do trabalho como engenheira, mas, atualmente, atua como analista de dados. A mudança de rumos veio quando percebeu as resistências que encontraria para crescer em uma área com poucas oportunidades para mulheres.

Sem sair do campo das exatas, Raquel fez especialização em ciência de dados e uma transição de carreira calculada. Começou a ganhar experiência com trabalhos extras, participou de diversos processos seletivos, até que conseguiu uma oportunidade com uma startup americana de NFTs. Hoje, ocupa um cargo sênior no setor de serviços financeiros da Hotmart, empresa brasileira de tecnologia educacional.

“Meu plano de carreira é permanecer sempre em movimento. A área de dados é muito dinâmica, acho bem difícil conseguir prever quais serão as melhores apostas para o meu futuro. Mas pretendo continuar estudando, aplicando meus conhecimentos e buscando estar em projetos relevantes”, ambiciona.

Apesar de ter conquistado uma maior projeção na carreira de tecnologia da informação (TI) do que na engenharia, Raquel pondera que a área também é predominantemente masculina e carece de representatividade de mulheres em cargos de liderança. “É muito importante para uma mulher ver que outra, como ela, conseguiu alcançar esses lugares. Ainda é necessário falar sobre machismo no mundo do trabalho porque estamos longe de uma equidade”, diz.

Para ajudar outras colegas, ela criou, com outras profissionais de TI, o Mulheres em Dados, a maior comunidade feminina na área do Brasil, com 28 mil seguidores no LinkedIn. “Começamos com um grupo de 10 mulheres espalhadas pelo país, para que não nos sentíssemos mais tão sozinhas em nossa atuação. Hoje, são 8.800 colegas e temos um espaço para trocar dicas sobre a área, divulgar vagas, fazer encontros de capacitação, sempre com a mentalidade de que uma puxa a outra”, conta.

A analista afirma que a inserção feminina em cursos de exatas é menor por questões culturais: “Acreditase que mulheres possuem uma performance melhor em outras áreas. Mas, na medida em que incentivamos umas às outras a buscar nossos sonhos, sem nenhum viés, mais mulheres vão se interessar pela área de exatas também.”

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Carla Moussalli, 33 anos, é cofundadora da Plenapausa, empresa voltada a levar informação, cuidado e tratamento para mulheres com mais de 40 anos de idade que estão na menopausa.

Advogada formada pela PUCSão Paulo e pós-graduada em inovação e empreendedorismo em saúde, Carla queria criar uma empresa que oferecesse acolhimento para as mulheres que atravessam essa fase da vida. “A menopausa é vista como um estigma, um tabu. Nós queremos que as pessoas conheçam a importância desse assunto”, diz.

A ideia para o negócio começou com uma história que ela e a sócia, Márcia Cunha, tinham em comum: “Nossas mães sofreram com problemas de saúde relacionados à menopausa, e víamos a relevância de desmistificar esse assunto e levar o conhecimento para outras mulheres, para que elas possam voltar a ter qualidade de vida nesse período.”

A empresa fornece um teste, produzido por ginecologistas, para saber se a pessoa entrou ou não no climatério, período de transição para a menopausa. Se o resultado der positivo, a Plenapausa oferece diversos serviços de acolhimento com profissionais da saúde e a opção de participar de uma roda de apoio com outras mulheres que também estão vivendo essa fase. A empresa também produz suplementos para combater os sintomas da menopausa.

Carla acredita que empreender para outras mulheres é um privilégio e que é possível crescer mesmo em mercados dominados por homens. “Para o futuro, queremos que nossa empresa avance ainda mais, para cuidar da saúde feminina e ser uma inspiração para elas.”

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Sarah Delma tem 36 anos e atua como consultora legislativa na área de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ganhou as páginas dos jornais como secretária da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos Antidemocráticos no DF. A condução dos trabalhos em uma das mais delicadas investigações parlamentares dos últimos anos lhe rendeu a Medalha do Exército Brasileiro, honraria raramente concedida a uma mulher.

“Não senti resistência dos parlamentares na condução da CPI por ser mulher, me senti, na verdade, muito reconhecida pela minha competência. Mas nós sabemos, uma mulher, para ocupar lugares de destaque como esse, tem que demonstrar três vezes mais competência do que um homem demonstraria para alcançar o mesmo espaço, então posso dizer que foi um caminho muito árduo”, conta.

E a trajetória de Sarah foi de constante comprovação de competência. Aprovada em 21 concursos, diversos entre os primeiros lugares, no Judiciário Federal, no Executivo Federal e Distrital, a paraibana chegou a Brasília determinada a se tornar servidora pública. “Cheguei aqui com uma mala de livros e outra de roupas, em 2013. Eu tinha apenas um sonho e fui construindo meu caminho”, lembra.

Formada em direito e relações internacionais pelas universidades federal e estadual da Paraíba, Sarah contou com a ajuda dos pais para se sustentar durante o período de estudos na capital, que durou cinco anos. Nesse tempo, chegou a tomar posse em um dos concursos que foi aprovada, mas abdicou do emprego para se dedicar à preparação para a carreira que realmente almejava, de consultoria legislativa. Foi quando estabeleceu uma rotina de cerca de 10h de estudo por dia.

“Abri mão de namoro, de estar perto da minha família, de quase tudo dá prazer para estudar, mas sabia que só iria dar certo se me dedicasse tanto. Sei que pouquíssimas pessoas no Brasil têm o privilégio de apenas estudar, mas eu aproveitei a oportunidade e valeu a pena”, celebra.

Sarah acredita que o processo de estudo para carreiras de alto desempenho na administração pública forja bom servidores: “Foram anos de muita renúncia e solidão, porque estudar é uma prática solitária, mas que me levaram a exercer minha carreira de forma mais excelente, a dar mais valor a essa função de serviço à sociedade.”

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Ana Paula Bastos, 49 anos, é educadora da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Como diretora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) da 306 Norte, foi responsável por mudanças nas diretrizes pedagógicas da escola que a colocaram em um patamar de excelência na educação pública da cidade.

O primeiro contato com a área foi na adolescência, quando cursou magistério na Escola Normal de Brasília. Mais tarde, Ana Paula decidiu cursar pedagogia no Centro Universitário de Brasília (CEUB), acreditando ser sua vocação. “Para ser professor, não basta amor, também precisa ter vocação, porque, aí, se tem ânimo para inovar, para lutar pelos direitos dos alunos e da própria escola”, defende.

Um ano antes de se formar, fez o concurso da Secretaria da Educação, mas, quando conferiu o resultado e soube que estava nas últimas colocações, foi trabalhar em uma livraria. Ana estava tão envolvida no emprego que, quando foi chamada para trabalhar em uma escola, hesitou em aceitar. No entanto, topou o desafio e trabalhou por um tempo com crianças pequenas, substituindo uma profissional que estava de licença maternidade. Pouco tempo depois, se tornaria diretora do Jardim de Infância da 302 Norte.

Depois de três anos trabalhando com educação infantil, em 2008, a educadora foi lotada no CEF 306 Norte como supervisora administrativa. Devido a seu bom desempenho no trabalho, o então diretor propôs a ela que prestasse o concurso para a diretoria da escola. Ana Paula ganhou o cargo e passou 15 anos no comando do centro de ensino.

Segundo ela, um dos seus principais desafios era a inclusão de alunos que estavam fora da idade regular, mas não haviam concluído o ensino fundamental. Foi, então, que a diretora desenvolveu uma metodologia de aprendizagem que centraliza as habilidades dos alunos, focando no desenvolvimento de seus pontos fracos.

O projeto, multidisciplinar, era aplicado até mesmo nas aulas de educação física, quando, durante a prática dos esportes, os professores trabalhavam também conceitos de inteligência emocional. A iniciativa rendeu à escola diversos prêmios, dentre eles, uma premiação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e uma medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).

Apesar dos resultados positivos, Ana Paula conta que enfrentou o descrédito de muitos pais. “No meu primeiro ano na escola, eu tinha 34 anos, e cansei de ouvir as pessoas procurando pelo ‘diretor’. Quando descobriam que era uma diretora e que era eu, eles falavam: ‘nossa, mas a diretora é aquela garotinha?’.

* Estagiários sob a supervisão de Priscila Crispi

Equipe de robótica do DF vai representar o Brasil em campeonato fora do país

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A equipe de robótica do Serviço Social da Indústria do Distrito Federal (Sesi-DF) de Taguatinga, a Albatroid, vai representar o país em um campeonato nos Estados Unidos. O anúncio ocorreu na tarde deste sábado (2/3), durante a cerimônia de premiação do Torneio Sesi de Robótica First Lego League (FLL) Challenge.

Sete estudantes do Sesi Taguatinga fazem parte do grupo, que tem a orientação de dois professores como técnicos. A equipe foi a quarta finalista do prêmio principal da competição — o Champion’s Award — o que lhe rendeu a vaga para a competição internacional.

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O Torneio Sesi de Robótica FLL Challenge ocorreu durante o Festival Sesi de Educação 2024 e integrou as competições da organização norte-americana First — que promove o interesse de crianças e jovens de várias partes do mundo nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Os grupos, formados por estudantes de 9 a 15 anos liderados por dois técnicos adultos, competiram em quatro categorias: desafio do robô, design do robô, projeto de inovação e core values.

Equipe Axis, de Sobradinho, premiada no torneio da F1 in Schools, que é apoiado pela Fórmula 1 e desafia crianças e jovens de 9 a 19 anos a desenvolver habilidades práticas de empreendedorismo e de tecnologia

Outra equipe do Distrito Federal foi premiada durante o evento. No torneio da F1 in Schools, que é apoiado pela Fórmula 1 e desafia crianças e jovens de 9 a 19 anos a desenvolver habilidades práticas de empreendedorismo e de tecnologia a escuderia Áxis, também no Sesi-DF, foi a vencedora do Prêmio Reconhecimento de Conquista do Comitê dos Juízes 2024, que avalia o desempenho geral dos grupos durante o torneio.

Na competição, além de criar um protótipo de veículo, os alunos precisaram preparar um plano de negócios, buscar apoiadores para desenvolver a ideia e pensar em marketing e em estratégias para mídias sociais. As atividades incluíram, ainda, uma ação social. A Áxis é formada por cinco estudantes do Sesi/Senai de Sobradinho, além dos dois professores que atuam como técnicos.

Robots Districts, de FRC

Evento sobre o empreendedorismo feminino oferece palestras e mesa de conversa para mulheres até domingo em Goiânia; saiba como participar

Começou nesta sexta-feira (1º ) o Delas – Mulher de Negócios. O evento, que é uma parceria entre O POPULAR e o Sebrae Goiás, acontece até o próximo domingo (3), no Shopping Cerrado, em Goiânia e é uma oportunidade de reconhecimento e visibilidade para as mulheres que já são empreendedoras e para aquelas que pretendem começar um negócio.

“É uma oportunidade para a gente estar aqui nesse evento exclusivo de mulheres. É muito bacana esse reconhecimento pelo empreendedorismo feminino e mais uma forma de divulgação para a gente”, afirma a estilista Tati Praxedes.

“É uma oportunidade para a gente estar aqui nesse evento exclusivo de mulheres. É muito bacana esse reconhecimento pelo empreendedorismo feminino e mais uma forma de divulgação para a gente”, afirma a estilista Tati Praxedes.

Para se inscrever, basta acessar o site www.jaimecamaraeventos.com.br. A entrada será solidária, por isso, o inscrito deve levar um pacote de absorvente para doação. (Confira a programação completa ao final da matéria).

O evento conta com um espaço para fazer conexões e fortalecer negócios, com uma programação com oficinas, workshops, palestras, feiras e exposições. As palestras contam com as comunicadoras Cíntia Chagas e Isa Quartarolli, e a psicóloga e sexóloga Laura Muller.

“Sou agropecuarista e hoje tem uma palestra que quero muito assistir que é sobre a mulher no agro. As minhas expectativas são as melhores possíveis, de sempre aprender e o Sebrae tem me ajudado muito”, disse Maria Célia.

“Sou agropecuarista e hoje tem uma palestra que quero muito assistir que é sobre a mulher no agro. As minhas expectativas são as melhores possíveis, de sempre aprender e o Sebrae tem me ajudado muito”, disse Maria Célia.

A artesã Renata Caetano contou que participa do Delas há três anos e que sempre teve retornos importantes relacionados ao empreendedorismo.

“Minha expectativa com o Delas é muito grande porque desde 2021 eu participo e sempre me traz retornos importantes, tanto na questão de venda, quanto da questão de empreendimento. Essa é uma parceria que tem esse olhar profundo para a micro e pequena empreendedora. Só tenho a agradecer, estou super feliz de estar aqui”, afirmou.

“Minha expectativa com o Delas é muito grande porque desde 2021 eu participo e sempre me traz retornos importantes, tanto na questão de venda, quanto da questão de empreendimento. Essa é uma parceria que tem esse olhar profundo para a micro e pequena empreendedora. Só tenho a agradecer, estou super feliz de estar aqui”, afirmou.

Para a empreendedora Luciana de Paula, o evento também é um espaço para representar as mulheres do Cerrado, através de um dos produtos mais queridos dos goianos, o pequi.

“Estamos representando as mulheres do Cerrado com os nossos produtos à base de pequi e baru. São produtos naturais e estamos com uma grande expectativa no evento para sermos vistas. Somos muito agradecidas pela oportunidade”, relatou Luciana.

“Estamos representando as mulheres do Cerrado com os nossos produtos à base de pequi e baru. São produtos naturais e estamos com uma grande expectativa no evento para sermos vistas. Somos muito agradecidas pela oportunidade”, relatou Luciana.

A empreendedora Priscilla Nobre disse que está muito feliz com o evento e a expectativa é de que muitas mulheres prestigiem os trabalhos nesses três dias de evento.

“A gente está muito feliz em poder estar mostrando o nosso trabalho aqui no Delas. É um trabalho diferenciado exatamente para personalização, principalmente para organização da mulher, que é fundamental. Estamos com toda expectativa nesse evento maravilhoso das mulheres esperando muitas mulheres virem prestigiar nosso trabalho”, destacou Priscilla.

“A gente está muito feliz em poder estar mostrando o nosso trabalho aqui no Delas. É um trabalho diferenciado exatamente para personalização, principalmente para organização da mulher, que é fundamental. Estamos com toda expectativa nesse evento maravilhoso das mulheres esperando muitas mulheres virem prestigiar nosso trabalho”, destacou Priscilla.

Já a fotógrafa Fernanda Marques disse que participar do Delas é uma honra e oportunidade de representar a fotografia de essência afetiva.

“Eu tenho a honra de estar aqui junto nesse evento maravilhoso, trazendo a fotografia afetiva para micro e pequenas empresas. É uma alegria muito grande. Minha fotografia é de essência afetiva, trazendo a bênção de vovó e representando também o autismo, a música e a cultura”.

“Eu tenho a honra de estar aqui junto nesse evento maravilhoso, trazendo a fotografia afetiva para micro e pequenas empresas. É uma alegria muito grande. Minha fotografia é de essência afetiva, trazendo a bênção de vovó e representando também o autismo, a música e a cultura”.

A programação começou às 13 horas e segue até as 22 horas. Além de palestras, mesas de conversa com convidadas serão realizadas três vezes ao dia com temas diferentes, e alguns deles são: “Turismo e artesanato”; “Desafios da mulher no agro em Goiás”; “Mulheres que são plenas”; “Mulheres, grana e poder”; e “Mulheres na moda”.

“Estamos trazendo nosso trabalho para esse projeto lindo e amanhã estarei lá no palco falando sobre liberdade, autoestima e mais confiança para as mulheres”, disse a biomédica Erika Mendes.

“Estamos trazendo nosso trabalho para esse projeto lindo e amanhã estarei lá no palco falando sobre liberdade, autoestima e mais confiança para as mulheres”, disse a biomédica Erika Mendes.

Confira a programação completa:

Sexta-feira – 1 de março

Sexta-feira – 1 de março

13h: Recepção – Credenciamento no Evento;

14h: Talk: Mulheres no Turismo e Artesanato – Convidadas: Ynaê Siqueira Curado – Espaço Hípico e Cachoeiras Bonsucesso; Mestre Artesã Fatinha – Olhos D’Agua; Patrícia Mercês – Colombina Cervejaria

15h: Momento Sebrae + Parceiros – Macetando a Inovação: Gerência Soluções com Victor, Athos e Ivana

16h: Cerimônia de Abertura

16h50: Palestra: Meu Desafio Empreendedor com Cíntia Chagas

18h: Talk: Empreendedorismo Feminino e Social com a Primeira Dama do Estado de Goiás, Dna. Gracinha Caiado; Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Dra. Delaíde Arantes; Diretora de Administração e Finanças Sebrae – Sra Margarete de Castro Coelho

19h: Talk: Desafios da Mulher no Agro em Goiás com Fabíola Magalhães – Coord. Comissão de Mulheres da Comigo e Credi Rural; Eliene Ferreira da Silva, diretora da Faeg Mulher GO; Yula Cristina Gomes Cadette – Gestora de Propriedades Rurais nos Estados de MS, GO, SP e TO.

20h: Encerramento – Atividade Cultural

Sábado – 2 de março

Sábado – 2 de março

13h: Recepção – Credenciamento no Evento

14h: Talk: Mulheres que Inspiram com Janete Vaz – Grupo Sabin; Márcia Queirós – Fast Escova; Nires Luzia da Silva Soares – Cultura Itaberaí; Patrícia Kompier – Grupo Kompier

15h: Momento Sebrae + Parceiros: Cinthia Faleiros – Apex e OAB Mulher

16h: Palestra: Se Reinventando Depois dos 60 com Virgínia Suassuna

17h: Talk: Mulheres que Transformam Realidades com Milena Curado – Cabocla; Elisangela Sheila Feitosa – JJ Borrachas; Elaine Moura – Chef de cozinha

18h: Momento Sebrae + Parceiros com ALI– Agente Local de Inovação: Nayara Santos; Gestora do Projeto ALI Sebrae GO; Ouvidoria da Câmara dos Vereadores

18h30: Palestra: Explorando a Essência doo SER + Talk: Mulheres que são Plenas com Laura Müller – Psicóloga, sexóloga, escritora, palestrante e jornalista e Erika Mendes – Biomédica esteta e palestrante

20h: Encerramento – Atividade Cultural

Domingo – 3 de março

Domingo – 3 de março

13h: Recepção – Credenciamento no Evento

14h: Talk: Mulheres na Tecnologia com : Lorena Gonçalves – Hub Goiás; Loryane Lanne – Mulheres GO; Ravena Darling – Mulheres GO ; Liana Araújo – Hub Goiás

15h: Momento Sebrae + Parceiros com Gleice Simplício e Patrícia Santiago

16h: Talk: Mulheres, Grana e Poder com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal

17h: Apresentação dos Pits – Grupo Startup Weekend Woman

18h30: Ouvidoria da Câmara dos Vereadores + Projeto Boutique Solidário

19h: Palestra: Liderança não é Cargo +Talk: Mulheres na Moda com Elenízia da Mata – vereadora da Cidade de Goiás; Isa Quartarolli; Irma Fernandes – presidente do Sindimaco

20h: Encerramento – Atividade Cultural

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Mais um passo à desoneração

A taxa de desemprego encerrou 2023 em 7,8%, representando uma queda importante na comparação com a do ano anterior (9,9%). Em boa parte, o resultado pode ser atribuído à vigência da desoneração da folha de pagamento de 17 setores produtivos, que garantem mais 9 milhões de postos de trabalho, inclusive as prefeituras.

Após a aprovação da Reforma Tributária, o Executivo editou medida provisória, a fim de derrubar a desoneração. Entre divergências e diálogos apaziguadores, prevaleceu a vontade do Legislativo. Nova medida provisória, mantendo a desoneração, foi editada, mas excluiu os governos municipais das lista de beneficiados, o que desagradou parlamentares e até o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG.

Com a nova MP, o Executivo deixaria de arrecadar R$ 12 bilhões. Caso o governo ceda e estenda o benefício aos municípios com até 142 mil habitantes, como defende o presidente do Congresso, a perda na arrecadação chegará a R$ 16 bilhões. O governo federal argumenta que essas e outras isenções fiscais podem criar dificuldades para zerar o deficit das contas públicas no fim deste ano. O país encerrou 2023 com um rombo de R$ 249 bilhões nas contas do setor público consolidado. A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), em nota, destacou que mesmo com a desoneração, a Receita Federal arrecadou R$ 280,6 bilhões em janeiro. Para grupo, o valor mostra que há espaço para não penalizar os empreendedores brasileiros.

A antecipação da edição da MP da desoneração frustrou a expectativa da equipe econômica, que pretendia manter a cobrança até o fim de março, para avaliar o relatório bimestral de despesas e receitas. Hoje, a intenção é manter firme a decisão de acabar com o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) — um socorro do Estado ao segmento durante a fase mais crítica da pandemia de covid-19. Como a crise sanitária foi dissipada com a vacinação em massa, garantindo um certo controle da doença. Mas não só isso, o programa mereceu duras críticas da área técnica da Receita Federal, diante dos indícios de abusos e fraudes no desenvolvimento do projeto.

A desoneração do setor produtivo foi criada em 2011, passando a valer no ano seguinte. Naquele momento, o Brasil enfrentava profunda crise econômica. Mas o que seria uma medida temporária, para oxigenar os vários setores, tornou-se definitiva. Hoje, tornou-se quase impossível eliminar esse benefício dos segmentos que movem a economia nacional.

Embora haja divergências entre a equipe econômica e os parlamentares, o aumento da oferta de empregos é entendido como essencial ao país, que enfrenta profundas e grandes desigualdades socioeconômicas. Mais emprego, mais dinheiro no bolso do trabalhador e, no fim, mais consumo. Dessa forma, deputados e senadores apostam que a economia voltará a girar, o que será positivo tanto para o governo quanto para os empresários.

Nessa linha de entendimento — crescimento via maior oferta de empregos —, haverá menor pressão sobre as políticas sociais, que demandam medidas compensatórias, como Bolsa Família e outras iniciativas, exigidas pelos indivíduos em situação de vulnerabilidade socieconômica. Essa compreensão não deixa de ter uma lógica, mas frustra a ideia primária da equipe econômica de estabelecer um modelo equânime, em que todos os brasileiros possam contribuir para o equilíbrio da economia.

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Mais um passo à desoneração

A taxa de desemprego encerrou 2023 em 7,8%, representando uma queda importante na comparação com a do ano anterior (9,9%). Em boa parte, o resultado pode ser atribuído à vigência da desoneração da folha de pagamento de 17 setores produtivos, que garantem mais 9 milhões de postos de trabalho, inclusive as prefeituras.

Após a aprovação da Reforma Tributária, o Executivo editou medida provisória, a fim de derrubar a desoneração. Entre divergências e diálogos apaziguadores, prevaleceu a vontade do Legislativo. Nova medida provisória, mantendo a desoneração, foi editada, mas excluiu os governos municipais das lista de beneficiados, o que desagradou parlamentares e até o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG.

Com a nova MP, o Executivo deixaria de arrecadar R$ 12 bilhões. Caso o governo ceda e estenda o benefício aos municípios com até 142 mil habitantes, como defende o presidente do Congresso, a perda na arrecadação chegará a R$ 16 bilhões. O governo federal argumenta que essas e outras isenções fiscais podem criar dificuldades para zerar o deficit das contas públicas no fim deste ano. O país encerrou 2023 com um rombo de R$ 249 bilhões nas contas do setor público consolidado. A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), em nota, destacou que mesmo com a desoneração, a Receita Federal arrecadou R$ 280,6 bilhões em janeiro. Para grupo, o valor mostra que há espaço para não penalizar os empreendedores brasileiros.

A antecipação da edição da MP da desoneração frustrou a expectativa da equipe econômica, que pretendia manter a cobrança até o fim de março, para avaliar o relatório bimestral de despesas e receitas. Hoje, a intenção é manter firme a decisão de acabar com o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) — um socorro do Estado ao segmento durante a fase mais crítica da pandemia de covid-19. Como a crise sanitária foi dissipada com a vacinação em massa, garantindo um certo controle da doença. Mas não só isso, o programa mereceu duras críticas da área técnica da Receita Federal, diante dos indícios de abusos e fraudes no desenvolvimento do projeto.

A desoneração do setor produtivo foi criada em 2011, passando a valer no ano seguinte. Naquele momento, o Brasil enfrentava profunda crise econômica. Mas o que seria uma medida temporária, para oxigenar os vários setores, tornou-se definitiva. Hoje, tornou-se quase impossível eliminar esse benefício dos segmentos que movem a economia nacional.

Embora haja divergências entre a equipe econômica e os parlamentares, o aumento da oferta de empregos é entendido como essencial ao país, que enfrenta profundas e grandes desigualdades socioeconômicas. Mais emprego, mais dinheiro no bolso do trabalhador e, no fim, mais consumo. Dessa forma, deputados e senadores apostam que a economia voltará a girar, o que será positivo tanto para o governo quanto para os empresários.

Nessa linha de entendimento — crescimento via maior oferta de empregos —, haverá menor pressão sobre as políticas sociais, que demandam medidas compensatórias, como Bolsa Família e outras iniciativas, exigidas pelos indivíduos em situação de vulnerabilidade socieconômica. Essa compreensão não deixa de ter uma lógica, mas frustra a ideia primária da equipe econômica de estabelecer um modelo equânime, em que todos os brasileiros possam contribuir para o equilíbrio da economia.

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O papel das redes de esgoto no monitoramento de surtos de doenças

Quando iniciou sua carreira como microbiólogo, Warish Ahmed nunca imaginou que uma de suas principais tarefas seria peneirar litros e litros de esgoto bruto recolhidos dos dutos e bueiros do Estado de Queensland, na Austrália.

Ahmed é cientista pesquisador do Meio Ambiente da Organização de Pesquisas Científicas e Industriais da Comunidade Britânica de Nações (CSIRO, na sigla em inglês), na cidade australiana de Brisbane.

“Trabalhar com esgoto talvez não seja o emprego favorito de todas as pessoas”, afirma ele. “Mas considero uma forma valiosa de aprender sobre a saúde da comunidade. É como encontrar ouro líquido.”

A chamada vigilância de efluentes é usada há muito tempo como instrumento fundamental para rastrear um pequeno conjunto de patógenos mortais, como o vírus da poliomielite, a bactéria Vibrio cholerae (causadora da cólera) e a Salmonella typhi, a bactéria que causa a febre tifoide. Todos eles são transmitidos pela falta de boas práticas de saneamento.

Mas, nos últimos tempos, principalmente depois da pandemia de covid-19, as autoridades de saúde pública de todo o mundo começaram a perceber que estudar o material presente no esgoto pode ser útil para acompanhar uma variedade muito maior de doenças infecciosas, em tempo real.

O projeto conduzido por Ahmed e sua equipe, em colaboração com a Universidade de Queensland, examinou os níveis de diversos patógenos respiratórios, como influenza, Sars-CoV-2, que causa a covid-19, e vírus sincicial respiratório (VSR).

Todos esses micro-organismos são excretados pelo intestino dos indivíduos infectados e acabam no esgoto recolhido em todo o Estado australiano. O VSR é de interesse específico, devido à sua alta taxa de mortalidade entre os idosos, especialmente quando há condições cardíacas e pulmonares pré-existentes.

Não é apenas a presença de um patógeno específico que interessa os pesquisadores, mas a sua concentração.

“A concentração é altamente valiosa para acompanhar o aumento ou o declínio de doenças”, explica Ahmed. “Concentrações elevadas de uma partícula viral podem indicar aumento da carga viral na comunidade.”

Quando as informações são enviadas para as unidades de saúde pública da região, elas agem como importante mecanismo de alerta precoce de que a incidência de uma doença infecciosa específica está aumentando. E, agora, novas plataformas tecnológicas estão tornando a coleta de dados ainda mais eficiente.

Tradicionalmente, a vigilância dos efluentes envolve o trabalho desagradável e perigoso de coletar manualmente as amostras. Mas, em Queensland, cada encanamento agora é equipado com um dispositivo de coleta que recolhe amostras a cada hora, 24 horas por dia.

Essas amostras são diariamente combinadas para gerar uma mistura que pode ser analisada em instalações especiais com testes PCR — uma técnica molecular empregada para identificar fragmentos de material genético.

Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças agora mantêm um sistema nacional de vigilância de efluentes, que examina regularmente uma série de patógenos, como a mpox, usando tecnologia fornecida pela empresa Verily, de propriedade da Alphabet (controladora do Google).

Outras startups como a Biobot, criada por alunos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), procuram expandir a vigilância de efluentes para todo o mundo.

Sua plataforma pode não só detectar vírus respiratórios no esgoto, mas doenças alimentares, como norovírus, e os subprodutos metabolizados de drogas como cocaína, fentanil, metanfetamina e nicotina.

Um exemplo é o vírus do sarampo, que é um dos mais contagiosos do planeta. Existe atualmente um surto de sarampo no Reino Unido e a doença também vem crescendo nos Estados Unidos, com 23 casos entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024.

O Brasil não registra novos casos da doença desde 2022.

No passado, os cientistas detectaram com sucesso fragmentos do RNA do vírus do sarampo no esgoto.

Ainda não existem programas oficiais de vigilância utilizando esse método, mas se acredita que, no futuro, será possível fornecer alerta precoce da circulação do vírus.

“Com o esgoto, você pode oferecer a vigilância de cidades de milhões de pessoas, usando amostras de apenas alguns locais”, afirma Joshua Levy, da Scripps Research, um instituto biomédico sem fins lucrativos de San Diego, nos Estados Unidos.

“Você precisa de muito menos amostras para caracterizar significativamente a dinâmica dos patógenos locais, em comparação com o alto volume de swabs nasais ou exames de sangue que, muitas vezes, são condicionados pela gravidade da doença. Mas mesmo as infecções assintomáticas são detectadas nos esgotos.”

Segurança sanitária nos países pobres

Enquanto a vigilância de efluentes é extensamente utilizada nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido (onde está em andamento um programa que usa amostras do esgoto para identificar as regiões do país com maior risco de incidência de pólio), o seu maior impacto provavelmente será a gestão de surtos de doenças em países de baixa renda.

Representantes da PolioPlus — a iniciativa global do Rotary Internacional para erradicar a poliomielite — indicam que a incidência da pólio foi reduzida em 99,9% nos últimos 35 anos, mas a doença permanece sendo um importante problema de saúde pública no Paquistão e no Afeganistão, onde o vírus da poliomielite é endêmico.

“No Paquistão, existem 114 locais de vigilância de efluentes e, no Paquistão, há 33”, afirma a diretora da PolioPlus, Carol Pandak. “Sem a vigilância, seria impossível indicar onde e como o vírus da pólio ainda está circulando.”

No Brasil, o monitoramento do esgoto passou a ser uma ferramenta fundamental para a Prefeitura de São Paulo na sua luta permanente contra o vírus da hepatite A (HAV), uma infecção que causa inflamação hepática e, às vezes, exige o transplante do fígado.

Nos últimos anos, São Paulo sofreu dois grandes surtos de HAV, com 1.872 casos confirmados entre 2016 e 2023.

Segundo a virologista Tatiana Prado, da Fundação Oswaldo Cruz, a cidade implementou um programa contínuo de vigilância de efluentes em aeroportos e áreas de risco. O objetivo é monitorar novas emergências de HAV, além de outros vírus e bactérias.

Ela prevê que as novas tecnologias só continuarão a ampliar as informações que esses programas podem fornecer.

“Estão surgindo novas ferramentas de diagnóstico que poderão gerar milhões de dados sobre os diferentes tipos de micro-organismos em circulação em um dado ambiente”, afirma Prado.

“Mas o maior gargalo serão os investimentos necessários para a manutenção dos sistemas de vigilância e a interpretação de todos os dados gerados, para que sejam úteis para os gestores de políticas públicas.”

Alerta precoce

Programas similares estão sendo testados em partes da África subsaariana, para detectar tuberculose e até parasitas como Cryptosporidium, que causa um tipo de diarreia.

A vigilância de efluentes, sem dúvida, irá desempenhar um papel cada vez maior para fornecer inteligência para os sistemas de saúde globais sobre todas as formas de patógenos preocupantes.

Os pesquisadores esperam que, nos próximos anos, a vigilância em tempo real comece a gerar novas informações sobre a evolução de muitos vírus comuns. Isso permitirá prever eventuais variantes que possam contornar a imunidade vacinal existente.

Esta informação poderá então ser rapidamente encaminhada para os fabricantes de vacinas, permitindo que eles atualizem suas doses antes que o novo patógeno evoluído esteja mais disseminado na comunidade.

“Alguns pesquisadores demonstraram que a circulação e evolução não detectada de vírus comuns é muito mais frequente do que se acreditava anteriormente”, explica Levy.

“Existem trabalhos em andamento para compreender o significado deste ponto para questões importantes da virologia, como o surgimento de variantes de interesse.”

“Já se demonstrou que podemos detectar a presença de novas variantes virais nos esgotos pelo menos 10 dias antes de outras formas de vigilância, [oferecendo] antecedência que é essencial para que as autoridades de saúde pública e demais interessados forneçam orientações e para que os membros do público alterem seus comportamentos, se necessário.”

Informações similares também podem ser usadas para preservar e proteger antibióticos para que eles continuem funcionando para as gerações futuras. Examinando amostras de esgoto, será possível determinar a presença de genes resistentes — segmentos de DNA que fornecem às bactérias a capacidade de sobreviver ao tratamento com certos antibióticos.

Para a professora Amy Pruden, da Virgínia Tech (o Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, nos Estados Unidos), este tipo de vigilância poderá ajudar a indicar as comunidades que enfrentam problemas de resistência, alertando os médicos sobre possíveis infecções que estejam se espalhando entre a população.

A vigilância também poderá fornecer mais informações para que os médicos possam prescrever o antibiótico mais eficaz para os seus pacientes.

“Uma ideia que está se popularizando é a possibilidade de uso de sequenciamento de DNA metagenômico”, explica Pruden.

“A beleza desta técnica é que ela permite sequenciar o DNA de todas as bactérias do esgoto de uma vez, compará-lo com os bancos de dados e ver quais os tipos de patógenos provavelmente estão presentes e quais tipos de genes de resistência eles podem carregar. Existe muito potencial aqui, mas ainda estamos nos primeiros estágios de aplicação.”

A esperança é que esse trabalho de vigilância também possa detectar futuros surtos epidêmicos ou até pandemias nos seus estágios iniciais.

Será então possível fornecer aos governos a capacidade de reagir e dirigir esforços para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos com muito mais rapidez do que antes.

Olhando para o futuro, a equipe de Warish Ahmed e outros grupos em todo o mundo estão examinando a possibilidade de analisar o teor viral dos efluentes dos aviões.

Com isso, eles esperam que seja possível rastrear possíveis novas variantes de influenza e covid, além de possíveis vírus novos que estejam sendo transmitidos em todas as partes do mundo.

“É fundamental ter as ferramentas necessárias prontas antes que surja o próximo vírus sério, para podermos combatê-lo com eficiência”, conclui Ahmed.

Renda do empreendedor do Rio supera a de São Paulo e se torna a maior entre as capitais

A renda dos empreendedores cariocas passou a dos paulistanos pela primeira vez e se tornou a maior entre as capitais, aponta estudo da Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico do Rio de Janeiro. A média aqui foi de R$ 8,8 mil mensais contra R$ 8,5 mil na capital paulista nos nove primeiros meses de 2023, segundo o levantamento, feito com base em dados da Pnad Contínua, do IBGE. A média nacional foi de R$ 5,4 mil no período.

O perfil da economia da cidade, com predomínio do setor de serviços, menos oportunidades no mercado formal — que acaba impulsionando uma parte qualificada da força de trabalho para o empreendedorismo — e a melhoria do ambiente para a abertura de novos negócios estão entre as explicações para o crescimento da renda entre empreendedores cariocas.

Na pesquisa, foram considerados apenas os empreendedores formais — autônomos e empregadores com CNPJ. Em 2020, o Rio era a sétima capital em rendimento de empreendedores no ranking das capitais.

— Houve melhora no ambiente de negócios e investimentos, com aquecimento no setor de eventos. Isso tem impacto para a economia, gerando mais renda, ampliando o poder de consumo na cidade —diz Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico.

Os empreendedores cariocas compõem uma parcela maior da população ocupada — 10,6% dos trabalhadores ocupados do Rio de Janeiro são empreendedores, contra 9,9% na média nacional. Isso acontece, primeiramente, porque a economia do Rio de Janeiro é intensiva em serviços, segmento muito relacionado ao trabalho por conta própria.

Turismo favorece empreendedorismo

Os empreendedores cariocas estão mais concentrados no segmento de serviços do que a média nacional — enquanto eles representam 71,8% na cidade do Rio de Janeiro, são apenas 49,7% no Brasil.

— O que diferencia o Rio de Janeiro são as atividades relacionadas ao turismo. A cidade recebe muitos estrangeiros, gerando incentivo ao empreendedorismo no setor de serviços, comércio e turismo — explica o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

No comércio, a taxa de empreendedores é maior no Brasil que no Rio. E o mesmo padrão é visto no caso da indústria e da construção civil.

Além disso, dizem especialistas, a escassez de oportunidades no mercado formal impulsiona uma parte da força de trabalho ao empreendedorismo no Rio. De acordo com Imaizumi, a cidade ainda enfrenta problemas estruturais que podem afastar empresas, como a violência e a corrupção.

Vagas com carteira assinada

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que contabiliza admissões e demissões no setor formal, mostram que o saldo de empregos com carteira assinada no Rio de Janeiro fechou o ano de 2023 em 71.825, abaixo do ano anterior, quando foram criados 99.551 postos de trabalho.

Em São Paulo, o saldo foi de 132.263 no ano passado, ante 195.854 em 2022.

Bulhões reconhece que o Rio tem como desafio formalizar mais a economia, simplificando e desburocratizando ao máximo o processo para abertura de novos negócios.

Por isso, a Prefeitura tem lançado mão de iniciativas como o Alvará a Jato, criado em 2023. O sistema permite que um empreendedor obtenha autorização do município para sua atividade e operação por meio de um processo de autodeclaração.

— Quando a atividade é de baixo risco, o empreendedor faz o alvará on-line. O programa veio após a Lei da Liberdade Econômica Carioca (de 2021), que desburocratiza o processo para abrir e formalizar negócios — destaca o secretário.

Ele afirma que o foco agora é ampliar o Crédito Carioca, programa de microcrédito que conta hoje com duas entidades parceiras, o Estímulo Rio e o Sicoob Rio.

Escolaridade

Bulhões ressalta o nível de qualificação do empreendedor carioca. A taxa de empreendedores formais cariocas com nível superior é de 57,3%, bem superior à média nacional (35,5%).

O economista Manuel Thedim, diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), explica haver um contexto para o Rio contar com uma fatia tão larga de empreendedores de alta escolaridade:

— Após 2020, desde a pandemia em particular, temos cada vez mais pessoas trabalhando para vários empregadores. É um reflexo da Gig Economy, com uma oferta maior de serviços formais prestados por profissionais mais sofisticados, como arquitetos, médicos e consultores. E há, no Rio, menor demanda por trabalho em empresas formais do que em São Paulo, por exemplo.

O conceito de Gig Economy é usado para descrever a nova economia da era digital, em que os trabalhadores são autônomos, independentes e prestam serviço para diferentes plataformas on-line, empresas ou mesmo ao consumidor final.

Modelo contemporâneo de trabalho

Thedim reforça que o ambiente de negócios da cidade do Rio vem melhorando, assim como a economia do país com um todo. Mas houve, ao longo desses últimos anos, outros fatores importantes, como a chamada “pejotização” de trabalhadores, sobretudo com a permissão para que empresas pudessem terceirizar colaboradores até em suas atividades fins após a Reforma Trabalhista do governo de Michel Temer.

O Rio tem, em paralelo, a vantagem de ser o maior polo de produção audiovisual do país e ter força na atividade do turismo, destaca o economista, áreas com robusta prestação de serviço.

— As economias estão se sofisticando, serviços crescendo por impacto da pandemia e do trabalho remoto. Não tem volta. O trabalho já mudou e vai mudar ainda mais. Para o Rio, é sensacional. Estamos na frente nesse modelo contemporâneo de trabalho — avalia Thedim.

Marcel Balassiano, subsecretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação, lembra que o Rio de Janeiro é uma cidade com uma quantidade relevante de nômades digitais, pessoas que realizam atividades profissionais no Rio de Janeiro para empresas de diversos lugares do mundo.

— Isso tem relação com o que queremos que o Rio se torne: a capital da inovação da América Latina. E temos tomado medidas neste sentido, como o Porto Maravalley (polo de inovação e tecnologia em Santo Cristo) e o projeto educacional Programadores Cariocas.

Participação feminina

No Rio, também há mais mulheres empreendedoras. O percentual de empreendedores femininos no Rio de Janeiro (39,1%) é maior do que a média nacional (35,5%). Também há mais mulheres cariocas empreendedoras empregadoras (35,5%) do que brasileiras. O mesmo comportamento se repete no caso das empreendedoras autônomas: elas são 41% no Rio e 37,4% no Brasil.

Luciana Kramer, de 41 anos, e Roberta Castro, de 39 anos, são duas cariocas empreendedoras. Luciana é dona da Tour Pelo Mundo, de seguro viagem e pacotes internacionais. Roberta é dona da Viaggio, focada em viagens para pessoas com mais de 50 anos.

As duas resolveram unir forças após participarem do Labtur, projeto da Secretaria Municipal de Turismo para negócios inovadores.

Agora, elas tocam o Tour para Cariocas, das duas empresas juntas, iniciativa é voltada para mulheres com mais de 50 anos que querem visitar lugares diferenciados na cidade, pouco frequentados pelo público comum.

— Foram seis meses de consultoria com a Lab. De meados de 2022 para 2023, crescemos bastante. Nos utilizamos de tudo o que tem de promoção para termos preços diferenciados — afirma Luciana, acrescentando que a Tour Pelo Mundo cresceu 150% em 2023, na comparação com o ano anterior, enquanto a Viaggio teve quase 60% de crescimento nesse período.