Em 2013, o Grupo Docas, que tem como principal acionista ao conhecido empresário Nelson Tanure, iniciou uma estratégia para ingressar no setor petróleo brasileiro. Identificou, como potenciais alvos, a HRT, até então comandada por Márcio Mello, e a OGX, do Grupo X, de Eike Batista. E preferiu investir na primeira empresa, segundo o diretor de Projetos da PetroRio, Nelson Queiroz Tanure Filho. A partir dali o grupo traçou uma estratégia para mudar o foco da empresa, tirando a atividade de exploracão e colocando a produção como foco, mudou a gestão e criou a PetroRio. Desde 2014, a empresa já comprou três campos offshore: Bijupirá e Salema e Polvo. Tanure Filho, que recebeu a Brasil Energia Petróleo no novo escritório da petroleira, no Rio de Janeiro, avisa: ‘Nossa meta agora é comprar alguma coisa grande’.
Como foi a chegada do fundo de investimento Docas – de Ronaldo Carvalho e Nelson Tanure – a HRT?
Começamos em 2013 a trabalhar e estudar alguns setores. Gostamos de empresas em dificuldade, independentemente do setor. Identificamos a HRT e a OGX como duas empresas que geravam oportunidade. E que a onda ruim, que estava afetando a credibilidade das duas empresas, era passageira. Na OGX, o Eike [Batista, fundador da petroleira] tinha 50% do capital. Havia uma série de problemas societários. A questão da put, entre outros. E a empresa tinha um endividamento muito alto.
A HRT, não. A HRT não tinha nenhuma dívida. O Márcio [Mello, fundador e ex-presidente da HRT] gastou boa parte do que ele levantou, mas não endividou a companhia.
Estudamos as duas companhias e desenvolvemos teses de como as empresas precisavam ser geridas. A primeira coisa era parar de focar em exploração. Era um risco elevado para uma empresa que não tem fluxo de caixa. É uma aposta no sonho. É melhor ter alguma certeza. Toda a aposta do Márcio Mello foi em exploração. Fez três poços na Namíbia e muita sísmica na Solimões. Ele também comprou quatro sondas e contratou outras quatro. Isso é muito representativo de uma época de excessos. Foi um excesso de otimismo.
Os excessos tiraram ele do controle?
O Márcio nem sequer era controlador formal da HRT. Ele tinha uma posição de 7% ou 8% do capital. Ele era o presidente do Conselho e o executivo da companhia, algo que não é permitido no novo mercado. Alguns fundos começaram a discordar dele pelo fato de a companhia não ter o desempenho esperado. Começou uma briga pelo controle da companhia do ponto de vista societário e também do ponto de vista de gestão.
E como se deu essa chegada propriamente dita?
Entramos em contato com a diretoria e o Conselho de Administração da HRT. Discutimos com eles a nossa visão. Todo o mundo concordou. Eles achavam que faltava um norte. Acharam que nossa entrada seria bem-vinda. Aí, começamos a comprar ações no mercado.
Foi aí que o Márcio deixou a companhia?
O fundo de investimentos chamado Discovery Capital, que fica nos EUA, estava tendo problemas com ele. Esse fundo estava tentando assumir o controle da HRT para implementar a gestão deles ou liquidar a empresa. Nós nos aproximamos do Discovery. Tivemos um alinhamento muito rápido entre todas as partes. Montamos uma posição.
O que mudou com a chegada de vocês?
A HRT gastava muito dinheiro no Solimões, na Namíbia e até aqui mesmo no Rio de Janeiro em coisas absolutamente desnecessárias. Como boa parte da empresa veio da Petrobras, que tem como foco encontrar petróleo e não tem como objetivo dar lucro, coisas completamente diferentes, tinham dogmas que não traduziam um mundo de uma gestão responsável.
Nós introduzimos bastante controle e racionalidade. Houve uma troca muito grande de pessoas para se enquadrar nesse perfil. Como também pelo fato de que a HRT nasceu com foco em exploração. Chegamos com o foco da produção. Isso exige uma mudança muito grande no perfil dos profissionais. Tivemos de montar o quadro de profissionais para ser algo que atenda nosso objetivo de produção.
A mudança na gestão passa pela saída do Nilo Azambuja e do Milton Franke, ex-diretores da HRT?
Absolutamente. Eles e outros.
Esse plano hoje já está concluído ou ainda existem ações a serem tomadas?
Olhando para dentro de casa, muita coisa foi feita. Contratamos a Falcone, que ajudou Jorge Paulo Lemann a criar o que hoje é a Ambev. Dentro de casa estamos implementando a meritocracia, a transparência, trazendo um novo tipo de profissional. Temos de ter pessoas focadas em resultado. Dentro de casa o trabalho de reestruturar a companhia, para ser uma companhia de produção, está praticamente concluído.
E a parte externa?
A outra parte é a questão do ponto de vista estratégico da empresa. Já vendemos o Solimões e estamos em negociação com o governo da Namíbia para ver o que fazer com nossas participações. Vamos com certeza reduzir nossa participação na Namíbia, senão sair por completo de lá. Já diminuímos bastante o gasto nesses dois ativos. Praticamente não gastamos dinheiro nesses projetos.
E a produção?
Temos hoje um ativo, que é o campo de Polvo. Temos 60% do campo. Concluímos a parte comercial para comprar 100% dos campos de Bijupirá e Salema, que ainda precisam de aprovação da ANP.
Que tipo de sinergia a PetroRio está estudando para Bijupirá e Salema e Polvo?
Toda a questão de logística aérea e de embarcações. Tem muita coisa que só precisamos de um para atender os dois. Em função da queda do preço do barril, negociamos todos os contratos da empresa. Todos. A ideia é estender esses contratos de Polvo para Bijupirá e Salema. Estamos conversando com as outras empresas para fazer o máximo de sinergia que podemos.
A PetroRio já consegue quantificar queda nos preços dos serviços por conta do preço do barril?
O grande fato que possibilitou a renegociação dos contratos foi a crise da Petrobras. Como a estatal parou de contratar, nós passamos a ser relevantes para os grandes fornecedores. Foi isso que permitiu as renegociações. Conservadoramente, conseguimos negociações na casa dos 20%. Muitos contratos foram mais. Há menos demanda de serviços e isso faz com que a empresa consiga contratar mais barato.
Novas aquisições estão em estudo?
Nossa meta é comprar alguma coisa grande. Temos como meta o crescimento via aquisições. Nossa principal meta são campos maduros. Nosso foco é buscar campos que ainda terão 15 ou 20 anos de vida.
Essa é uma estratégia de sustentabilidade ou para vender a empresa?
Nós viemos para ficar. Nossa meta é crescer e crescer muito.
Ativos de produção com 15 anos de vida só há na Bacia de Campos, não?
O principal vendedor no Brasil é a Petrobras. Temos interesse em comprar ativos dela. Estamos mantendo conversas, porém nada iminente. Mas tem muita gente avaliando portfólio no Brasil.
Vocês também estão considerando ativos no Mar do Norte?
É bom diversificar. Vale a pena focalizar países em que se tem estabilidade e competividade. Olhamos para o Mar do Norte, que tem muita coisa à venda. E os EUA também. É muito interessante.
A 13a rodada está no foco da PetroRio?
Já compramos pacote de dados e estamos conversando com outras empresas. Nos grandes ativos não vamos participar como operador. Estamos avaliando, mas vamos participar.
E o conteúdo local? Qual a análise que a empresa faz sobre essa política?
É uma política interessante. Existe em vários lugares do mundo. A indústria brasileira não conseguiu responder na velocidade necessária para atender a todas as demandas e no percentual que a lei exige. Ainda não deu certo. Eu vejo como um desafio. É bonito, mas é um desafio.
Como resolver essa questão?
Ou a indústria se desenvolve, e isso demanda tempo, ou será preciso uma flexibilização no curto prazo. Esses são os dois caminhos. A menos que se queira multar todo o mundo e criar brigas judiciais intermináveis e mais insegurança para o país. É preciso ter razoabilidade.
E como está a discussão com a ANP sobre a aquisição da parcela de 40% da Maersk no campo de Polvo? A agência negou a cessão dos direitos.
Chegamos a um denominador comum há pouco tempo. A agência aumentou suas exigências por conta de uma série de questões. Mas estamos na expectativa de que vai sair. Vamos atender às exigências de uma maneira razoável e em linha com as melhores práticas do mundo.
Fonte: Geofisica Brasil