Entre 30 de julho e 4 de setembro, ao menos doze processos de despejo foram abertos contra a WeWork por atraso no pagamento de alugueis. As empresas exigem que a companhia de coworking, que aluga espaços de trabalho compartilhados, desocupe os imóveis.
Além disso, existem outras quatro ações extrajudiciais de cobrança de dívidas, nas quais as empresas lesadas podem manter o contrato de aluguel e a posse do espaço com o locatário, explica o advogado empresarial Gabriel Britto.
Em outro caso, a empresa proprietária contatou diretamente os clientes da WeWork para garantir o recebimento dos próximos pagamentos.
Atualmente, segundo o site da empresa, a WeWork mantém espaços de trabalho — incluindo salas, locais para eventos e andares inteiros — em 25 endereços espalhados pelo país, entre São Paulo (19), Rio de Janeiro (3), Belo Horizonte (2) e Porto Alegre (1).
São Paulo concentra a grande maioria dos processos encontrados. Somente dois processos correm em outros estados, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, pedindo que a empresa deixe os imóveis alugados.
Procurada, a WeWork afirmou não ter sido notificada sobre qualquer pedido de despejo. Em nota, a empresa disse que as negociações em andamento já estão resultando em acordos com os locadores.
Nota publicada ontem pela coluna Capital, do GLOBO, mostra que a WeWork pagou três aluguéis atrasados em seu principal endereço no Rio, a Torre Almirante, edifício de alto padrão no Centro da cidade.
Segundo Britto, os casos de inadimplência, especialmente em áreas nobres, podem sinalizar que não há fluxo de caixa. Nesta semana, duas proprietárias de imóveis localizados em centros financeiros de São Paulo entraram com pedidos de despejo contra a WeWork.
A gestora de ativos imobiliários HBR Realty informou que a empresa de escritórios compartilhados teria uma dívida de R$ 6,9 milhões, referente ao contrato de aluguel do 1º ao 11º andares do Edifício Lead Corporate Faria Lima, na avenida de mesmo nome.
Já o Fundo de Investimentos Imobiliários JK D, administrado pelo Banco Genial, também protocolou ação onde consta dívida de R$ 2,4 milhões ligada ao Condomínio Wtorre JK, localizado na Avenida Presidente Juscelino Kubitscheck.
De acordo com Britto, o mercado de locação de espaços por curtos intervalos de tempo enfrenta um momento ruim depois da pandemia, tendência que não deve se reverter no curto prazo.
Além disso, o advogado lembra que a WeWork contratou recentemente a consultoria Alvarez & Marsal, conhecida por sua atuação em casos de reestruturações empresariais, para negociar com os donos dos imóveis.
O envolvimento do escritório, segundo Britto, poderia indicar uma possível aproximação de um pedido de recuperação judicial ou extrajudicial.
Em anonimato, uma fonte disse que investidores temem que a WeWork entre em um processo de insolvência, na medida em que seus clientes já começam a buscar contato direto com os proprietários dos imóveis e negociam com outras empresas de coworking.
Pandemia trouxe problemas
De acordo com Roberto Kanter, economista e professor da FGV, a WeWork aluga e transforma espaços em ambientes de trabalho modernos e com a identidade da marca, investindo em imóveis que não são dela, o que implica em gastos elevados.
Além disso, esse modelo foi duramente impactado pela pandemia. Depois da crise, enquanto empresas tradicionais voltaram aos seus escritórios, as companhias mais modernas, como startups, adotaram de vez o trabalho remoto ou semipresencial.
— A pandemia impactou diretamente, por conta do trabalho remoto. Empresas grandes e tradicionais, como a Petrobras, retornaram a prédios próprios — resume Kanter.
Kanter também lembra que a maior parte das operações da WeWork está concentrada nos Estados Unidos, onde enfrenta uma situação financeira complicada. Ano passado, a empresa entrou com um pedido de Chapter 11 na Justiça americana.
Esse mecanismo é equivalente ao processo de recuperação judicial no Brasil e permite que a empresa possa captar recursos e fazer uma reestruturação financeira enquanto preserva sua operação.