Projetos ajudam mulheres a encontrar autonomia no empreendedorismo

O empreendedorismo é um caminho escolhido por um número cada vez maior de mulheres que querem ganhar autonomia, sair de ciclos de violência e tornarem-se donas do próprio destino. No Distrito Federal, projetos liderados por mulheres têm o propósito de ajudar outras mulheres a empreender de maneira responsável para elas seguirem os sonhos usando a própria mão de obra e o talento. O Correio conversou com Katia Ferreira, Celina Bessa e Weimma Anita, três incentivadoras que estão à frente de diferentes projetos com um objetivo comum: encorajar e capacitar outras mulheres a seguir o caminho de criar a própria fonte de renda.

“Eu sempre quis fazer a diferença”, é com essa frase que a fundadora do Instituto Proeza, Katia Ferreira, descreve o seu propósito. Há 21 anos, ela trabalha com milhares de mulheres na região do Recanto das Emas e Riacho Fundo II no combate à pobreza e às desigualdades sociais com ações e estratégias que promovem o Serviço de Fortalecimento de Vínculos e Igualdade de Gênero por meio de iniciativas comunitárias. Entre as principais ações do instituto, está o oferecimento de cursos gratuitos de bordado e crochê juntamente com atendimento psicológico, também sem custos, para todas as alunas. A ação de incentivo ao estímulo de habilidades, aliada ao cuidado com a saúde mental, tem ajudado mulheres a sair de situações de vulnerabilidade e a conquistar a própria fonte de renda.

Celina Bessa fundou o primeiro espaço de trabalho só para mulheres da Região Centro-Oeste

Segundo Katia, mais da metade das 106 mulheres atendidas pelo Instituto Proeza fazem parte de estruturas familiares nas quais a mulher é a responsável pelo sustento do lar. “É nesse contexto em que estão as que vivem em situação de maior pobreza. Aqui, nós as ajudamos a construírem um projeto de vida, estabelecerem metas e saírem da situação em que se encontram. Buscamos dar capacitação focada no trabalho”, explica. “Trabalhamos com mulheres beneficiárias de programas sociais e as ajudamos a empreenderem”, completa.

O Proeza trabalha em parceria com os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que encaminham mulheres em situação de vulnerabilidade ao instituto para terem acesso aos cursos e atendimentos. “Montamos um grupo para trabalho com cenografia em crochê. Já fizemos a cenografia de uma série de eventos grandes, além de galerias da Embratur em países como França, Itália e Inglaterra. Nós também encapamos as embaixadas brasileiras em Roma e Londres com crochê”, orgulha-se.

Para empreender, entretanto, além de habilidade para produzir algum produto ou desenvolver algum serviço, é preciso entender os caminhos burocráticos para profissionalizar a atividade. É ensinando a empreender que a assistente social Wemmia Anita, 34 anos, ajuda outras mulheres. Associada do Instituto Afrolatinas — organização de mulheres negras brasileiras que atuam nas artes, memória, educação e gestão —, Wemmia ajuda mulheres que estão em momento de reestruturação de carreira ou em busca do empreendedorismo. Ela está à frente do curso de empreendedorismo afro, ofertado gratuitamente no âmbito do projeto Afro em Movimento, cuja segunda edição foi lançada ontem e vai até o final de maio. As interessadas podem se inscrever gratuitamente até 7 de abril pelo Instagram @afroemmovimentodf ou pelo site www.afroemmovimento.com.br.

“Ajudar mulheres que trabalham vendendo algum produto ou serviço a se tornarem empreendedoras de fato é uma forma de gerar autoestima e perspectiva de trabalho e de renda. Quando elas veem aquela atividade se tornar um modelo de negócio de fato, elas se sentem empoderadas”, descreve Wemmia. “Na maioria das vezes, as mulheres já têm uma ideia de negócio, seja produto ou serviço, e já começou a validar isso na própria comunidade, com a vizinhança. A partir do momento que ela adquire uma mente empreendedora, ela consegue se reestruturar e se reconfigurar no mundo. É pensar e agir a partir da perspectiva do sonho”, acrescenta.

Para começar a empreender, principalmente no setor de serviços, é preciso um investimento inicial, além de recursos que nem todas as mulheres conseguem ter acesso no início. Foi pensando nesse gargalo que a empreendedora Celina Bessa, 39, fundou um espaço de coworking só para mulheres em Águas Claras, o primeiro do gênero no Centro-Oeste. “Na pandemia, comecei a observar cada vez mais mulheres se lançando no empreendedorismo que chamamos de guerrilha, aquele exercido por necessidade. Aos poucos, fui percebendo que elas continuavam e foram se estabelecendo nesse caminho”, conta.

O espaço, denominado Blaze Coworking, conta com 25 salas para atividades diversas, como reuniões, palestras, sessões de fisioterapia, massagem e beleza. Os espaços podem ser alugados por hora e são ofertados valores sociais como forma de incentivar as mulheres a empreender. No local, trabalha uma equipe 100% feminina. “Trabalhar em um ambiente compartilhado tira a sensação de estar empreendendo sozinha. Cria uma comunidade, possibilita networking e troca de experiências. Essa troca e senso de comunidade é crucial para o desenvolvimento da sociedade”, ressalta Celina. “Além disso, as mulheres que empreendem, assim como eu, adquirem a tendência de contratarem mais mulheres, o que acaba fortalecendo umas às outras”, finaliza.


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