Um grande nó para Lula desatar na reforma ministerial

O destino político do atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, se tornou um dos maiores nós da reforma ministerial planejada pelo presidente Lula.

Um dos auxiliares de Lula na lista de cogitações para trocar de pasta no redesenho da administração lulista, Padilha é alvo de queixas no Congresso e no próprio governo em razão das dificuldades enfrentadas pelo presidente na aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto desde o início do governo.

Mas Lula não pretende abrir mão dele na Esplanada, e por isso vem considerando colocá-lo ou na Saúde no lugar de Nísia Trindade, cujo desempenho é ainda mais atacado, até mesmo no PT. Além de ser médico formado pela Unicamp, Padilha também já foi Ministério da Saúde na gestão de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014.

Mas, pela regra eleitoral, o ministro teria de se desincompatibilizar do cargo de ministro – seja qual pasta estiver ocupando – em abril do ano que vem, para disputar as próximas eleições. Ele deve tentar se reeleger para mais um mandato na Câmara dos Deputados em 2026.

“Um ano de gestão é um tempo muito pequeno para alguém deixar um legado numa área tão estratégica para o governo, como é a Saúde”, resume um interlocutor próximo de Lula. E além disso, deixaria a pasta à mercê da cobiça do Centrão às vésperas da campanha eleitoral.

A Saúde possui um dos maiores orçamentos de toda a Esplanada – o deste ano é de R$ 241,61 bilhões – e também é uma das áreas nevrálgicas na execução de emendas parlamentares.

É por isso que alguns petistas avaliam reservadamente que uma solução mais adequada seria deixar a Saúde com um quadro mais técnico ligado ao PT, o do médico Arthur Chioro, que ficasse até o final do mandato.

Nesse caso, a alternativa seria deslocar Padilha para um ministério de perfil de menos execução orçamentária e mais diálogo com a sociedade, como a Secretaria-Geral da Presidência.

A pasta é a responsável pela interlocução do Planalto com movimentos sociais, mais voltada para a construção de rede de apoio à reeleição de Lula do que para entregas e a oferta de serviços públicos à população.

Também seria uma forma de o ministro intensificar a ponte com entidades da sociedade civil e sindicatos, o que lhe serviria por tabela para angariar apoios em sua a campanha de reeleição à Câmara.

Na nova montagem ministerial que se desenha, o atual chefe da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, é considerado carta fora do baralho no PT – e já levou puxão de orelha do próprio Lula no ano passado, durante um esvaziado ato de comemoração ao Dia do Trabalho em São Paulo.

Hoje, no entanto, quem é mais cotado para substituí-lo é a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, outra peça importante do tabuleiro político petista. Ela também tem sido considerada para o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida de uma das vitrines da administração lulista, o Bolsa Família.

Após participar de cerimônia do Congresso que marcou o início do calendário legislativo, Padilha foi abordado pessoalmente pelo blog e questionado se preferia voltar para a Saúde ou ocupar outro cargo no primeiro escalão.

“Tudo é bom. O ruim é ser oposição”, respondeu o ministro. No caso do governo Lula, não é exagero dizer que parte da oposição tá dentro do próprio governo.

Recuo de Lula no IBGE não encerra tensões na gestão de Marcio Pochmann

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Entenda como funcionam os bancos digitais

Nos últimos tempos, a tecnologia tem revolucionado cada vez mais a forma como as pessoas consomem serviços e produtos. Nesse cenário, os bancos digitais têm simplificado transações financeiras e dado aos clientes mais autonomia para cuidar do próprio dinheiro.

Dessa forma, não há mais necessidade de depender apenas dos bancos tradicionais para realizar pagamentos de contas, transferir dinheiro, fazer empréstimos, entre outras transações. Agora, basta ter acesso à internet e um smartphone para conseguir resolver tudo na palma da mão.

O que é um banco digital?

O banco digital é uma das categorias existentes entre as fintechs. O termo fintech, abreviação de financial technology (tecnologia financeira, em português), é utilizado para se referir a startups ou empresas que usam a tecnologia para oferecer serviços financeiros de forma inovadora e sem burocracia, sejam eles gratuitos ou com baixo custo.

No Brasil, atualmente há diversos bancos digitais autorizados pelo Banco Central do Brasil a funcionar. Agibank, Banco Inter, Banco Original, Pag Bank, C6 Bank, Neon, Nubank e Next são algumas das opções disponíveis. Todos eles oferecem serviços 100% on-line.

Os serviços oferecidos pelos bancos digitais costumam variar de acordo com a instituição financeira. Porém, não costumam ser muito diferentes daqueles disponibilizados pelos bancos convencionais, como pagamentos de boletos, transferências TED e DOC, cartão de crédito e débito, débito automático, Pix, saques, empréstimos, financiamentos, investimentos etc.

Bancos digitais permitem que clientes resolvam problemas por aplicativo e sem enfrentar filas (Imagem: Ground Picture | Shutterstock)

Principais diferenças entre bancos digitais e tradicionais

Ao contrário dos bancos tradicionais, os digitais não possuem estruturas físicas como as agências. Dessa forma, o cliente pode abrir a conta e realizar qualquer serviço de maneira virtual – pelo aplicativo no próprio smartphone – a qualquer momento, em qualquer lugar e sem precisar enfrentar filas. Outros canais de atendimento dessas instituições financeiras costumam ser e-mail e telefone.

Além disso, segundo Antônio Dias Stein, analista de investimentos CNPI, a ausência de despesas operacionais desses bancos – por não terem agência física –, influencia diretamente no custo de serviços repassados ao usuário. Assim, pode haver ausência de taxas de criação e manutenção de conta, TEDs e DOCs gratuitos (até certo limite) e transferências gratuitas para contas do mesmo banco.

Diferença entre banco digital e banco digitalizado

O banco digital é aquele que já nasceu no meio on-line. O digitalizado, por sua vez, é o banco tradicional, com estrutura física, mas que oferece algumas operações por meio de aplicativos e internet banking. Apesar disso, por vezes, a opção digitalizada requer que o cliente vá até uma agência ou caixa eletrônico para desbloquear determinadas ações no aplicativo ou no internet banking.

Segurança dos bancos digitais

Para garantir a segurança dos clientes, os bancos digitais – assim como os tradicionais – precisam ser autorizados pelo Banco Central do Brasil a operarem no país. “Além disso, eles possuem protocolos de segurança on-line muito rígidos, já que todas as suas atividades são feitas no meio cibernético”, explica Antônio Dias Stein.

Inclusive, a Resolução nº 4.658/2018, do Banco Central do Brasil, exige que essas instituições tenham uma “política de segurança cibernética” e determina “requisitos para a contratação de serviços de processamento e armazenamento de dados e de computação em nuvem”.

Ainda segundo Antônio Dias Stein, algumas instituições investem o dinheiro que está na conta de seus correntistas em RDBs (Recibos de Depósito Bancário) ou em Tesouro Direto. “Ou seja, mesmo que o banco quebre, o seu dinheiro ou está coberto pelo FGC [Fundo Garantidor de Créditos] (no primeiro caso) ou no investimento mais seguro do país, sob custódia do governo (no segundo)”, esclarece.

Cuidados importantes

Mesmo com a regulamentação do Banco Central do Brasil e medidas tomadas pelas instituições financeiras, alguns cuidados, por parte dos usuários, também devem ser tomados para garantir a segurança de dados e dinheiro. Para Afrânio Alves, planejador financeiro e especialista em investimentos, é importante ter cautela ao sacar dinheiro e usar cartão de crédito ou débito, ao usar equipamentos e redes de Wi-Fi públicas para acessar a conta e ao armazenar e acessar as senhas da conta.

Economia criativa no DF movimenta R$ 10 bilhões ao ano, diz Dieese

Com um ecossistema pulsante de inovação e cultura, o Distrito Federal se firma como um dos principais polos da economia criativa do país. A capital é a segunda unidade federativa com maior número de trabalhadores em ocupações neste segmento. Segundo pesquisa recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,7% dos trabalhadores locais atuam no setor. São 130 mil agentes formais de economia criativa que produzem quase R$ 10 bilhões por ano, com participação de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da capital federal. No ranking nacional, o DF aparece atrás somente de São Paulo, que tem a maior proporção (9,8%).

O economista Alexandre Arce explica que a economia criativa é o setor que se baseia na geração de valor a partir da criatividade. “Ela engloba diversas áreas, como design, moda, cinema, artes visuais e tecnologia. No DF, esse setor tem uma importância significativa, movimentando diferentes segmentos e impulsionando a identidade cultural de Brasília e da região”, afirmou.

A loja colaborativa Endossa é um caso de sucesso da economia criativa. O empreendimento surgiu em São Paulo, em 2008, e chegou a Brasília em 2012. A marca, que atualmente emprega 10 pessoas, reúne itens de pequenos produtores independentes do setor criativo em suas três unidades localizadas na Asa Sul, na Asa Norte e no Sudoeste.

Para Luana Ponto, 39 anos, uma das sócias, o setor é essencial para manter viva a identidade artística da cidade. “Se não houvesse esse estímulo ao nosso mercado, seríamos um grande shopping de coisas iguais. A economia criativa precisa existir. Precisamos valorizar e apoiar pequenos artistas e pequenos negócios locais. Seja no Plano Piloto ou nas periferias, que, por sinal, estão com grande destaque na cena atual criativa do DF”, defendeu.

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O DF conta com políticas públicas voltadas para a economia criativa, como editais de fomento da Secretaria de Cultura, incentivos fiscais e programas de apoio ao empreendedorismo. Entre as ações de incentivo do Governo do Distrito Federal (GDF), estão o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e a Lei de Incentivo à Cultura (LIC), no âmbito da Secec; as linhas de microcrédito e os eventos voltados ao artesanato fomentados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet-DF); as pesquisas desenvolvidas com suporte da FAP-DF, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF) e do Biotic; e o projeto pedagógico da Universidade do Distrito Federal (UnDF), por meio de cursos como o de produção cultural.

De acordo com o economista Riezo Silva, esse setor representa uma parcela significativa do PIB do DF devido à forte presença de instituições culturais, festivais, universidades e polos tecnológicos. No entanto, o especialista aponta algumas dificuldades. “Muitos desafios ainda precisam ser superados, como maior acesso ao crédito, formação especializada e melhoria na infraestrutura de espaços culturais e tecnológicos”, lamentou. “O Sebrae até dá suporte para quem está no início, mas para marcas que já entenderam o mercado. Não vejo investimento para que cresçam e se mantenham”, relatou a empresária Luana Ponto.

Cícero Paulo Teodoro, 54, chegou ao DF durante a pandemia e, desde então, vende seus produtos na Feira da Torre de TV. Artesão, suas mãos transformam fibras naturais em vassouras, cestos, chapéus, barracas de praia, forros de bambu e luminárias, utilizando principalmente a fibra do coco-babaçu. A maior parte da produção é feita em casa, e os preços variam conforme o produto — cestos e luminárias podem custar até R$ 180. As vendas, no entanto, são imprevisíveis: alguns fins de semana são bons, enquanto outros passam sem nenhum lucro. O movimento na feira acontece, principalmente, aos sábados e domingos.

Ele conta apenas com a propaganda boca a boca para atrair clientes. “Consegui um espacinho aqui na Torre, mas com relação a apoio, eu não sei como funciona, nunca procurei. Lá no Ceará, eu conseguia crédito com o Banco do Nordeste, aqui não achei nada parecido. Também não sei mexer com internet, não sei ler, não sei divulgar o meu trabalho. Os meus clientes que fazem isso por mim”, relatou.

Adriana D’Ângelo, 56, moradora do Riacho Fundo I, ao lado do marido, Wilton D’Angelo, construiu uma vida com os quadros que pinta. “Eu nunca trabalhei de carteira assinada. Aprendi uma profissão, sobrevivi com ela, criei minhas filhas e hoje a gente pinta para complementar a renda e porque gostamos”, contou.

Mesmo com a estabilidade proporcionada pelo registro como Microempreendedor Individual (MEI) — que facilita a compra de materiais e oferece benefícios -, Adriana pontuou os desafios enfrentados pelos artesãos da Feira da Torre de TV. “O governo nos cedeu uma loja, o que ajuda muito, pois antes tínhamos de desmontar tudo no fim de semana. Mas ainda faltam divulgação e segurança. Durante a semana, ficamos sozinhos e vulneráveis”, apontou. “A associação dos artesãos contrata seguranças de quinta a domingo, mas, nos demais dias, a presença de pessoas em situação de rua dificulta a rotina de trabalho.”

Para o economista Alexandre Arce, a colaboração entre governo e empresas privadas pode ser o diferencial para impulsionar a economia criativa. “Programas de incentivo, linhas de financiamento acessíveis, investimentos em educação e tecnologia e a criação de espaços como coworkings e hubs criativos podem fortalecer esse setor no DF, tornando-o mais competitivo e sustentável.”

De acordo com o Panorama da Economia Criativa, projeto desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB) com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), atualmente, o DF conta com cerca de 130 mil agentes formais de economia criativa, que geram quase R$ 10 bilhões por ano, com participação de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da capital federal.

Ao Correio, Alexandre Kieling, coordenador da pesquisa da UCB, explicou que mais de 60% dos 130 mil CNPJs mapeados pelo estudo são microempreendedores individuais. “O volume gerado por esse setor é superior ao da construção civil e atinge todas as regiões administrativas. Em cada RA, a gente tem vocações específicas, e tem algumas que se repetem em todas, como no caso das publicidades, mas há aquelas que têm o artesanato, a música ou a dança como ponto mais forte”, apontou.

O especialista declarou que o DF tem capacidade de alavancar a área com extrema facilidade e que, em cinco anos, a matriz econômica da capital mudará totalmente. “O Brasil tem, hoje, aproximadamente 8 milhões de pessoas atuando em atividade criativa, e o DF perde apenas para SP”, ressaltou. Segundo ele, as atividades com maior estrutura e que têm gerado altos valores são as de indústrias criativas. “A gente tem uma estrutura muito forte de eventos, audiovisual, games, publicidade, gastronomia, moda, de desenvolvimento de software e de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).”

Com suas vendas instaladas também na tradicional feira central de Brasília, Maria Margarida Romero, 77, vê no artesanato a sua essência. Ela trabalha em parceria com um marceneiro e sua irmã, que produz peças de palha de milho, e vê na internet uma alternativa para expandir suas vendas. “O trabalho manual precisa ser visto de perto para ser valorizado. Além das redes sociais, uma loja física faz toda a diferença. Eu sempre digo que nasci artesã, comecei na infância e nunca mais parei”, contou a moradora do Lago Norte.

Segundo o Dieese, economia criativa pode ser entendida como a intersecção entre economia, cultura, tecnologia e inovação e abrange diversos setores de atividades, como audiovisual, arquitetura, tecnologia, publicidade e até gastronomia. Usando esse conceito, são consideradas ocupações criativas as profissões que exigem certo grau de inovação e criatividade dos trabalhadores.

*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti

Economia criativa pode ser entendida como a intersecção entre economia, cultura, tecnologia e inovação e abrange diversos setores de atividades, como audiovisual, arquitetura, tecnologia, publicidade e até gastronomia. Usando esse conceito, são consideradas ocupações criativas as profissões que exigem certo grau de inovação e criatividade dos trabalhadores.

Fonte: Dieese

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Primeira edição do Feira Arte na Avenida de 2025 acontece neste domingo em Feira de Santana

A primeira edição de 2025 do Feira Arte na Avenida será realizada neste domingo (2), no canteiro central da Avenida Getúlio Vargas, em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador.

O evento, consolidado como como importante atração dos finais de semana no município, acontece das 8h às 13h e reunirá expositores com produtos como artesanato, antiguidades, literatura, discos de vinil, fotografias, xilogravuras e plantas.

Além da comercialização de produtos, a feira contará com apresentações artísticas de talentos locais, fortalecendo a cultura e o empreendedorismo na região.

Interessados em expor seus produtos no Feira Arte na Avenida devem realizar a inscrição presencialmente na sede da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secel), localizada na Rua Estados Unidos, nº 37, no Centro.

A feira acontecerá no trecho da Avenida Getúlio Vargas entre as ruas Frei Aureliano Ramos e São Domingos.

Para o secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Cristiano Lôbo, a ação é mais uma iniciativa de fortalecimento da cultura aliada ao incentivo do comércio local e empreendedorismo na região.

A iniciativa é promovida pela Prefeitura de Feira de Santana, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), em parceria com a sociedade civil.

Pesquisador brasileiro em IA explica por que DeepSeek impressionou: ‘Fizeram de forma totalmente diferente da maioria das empresas de tecnologia’

O chatbot de inteligência artificial chinês DeepSeek-R1 foi lançado discretamente em 20 de janeiro de 2025.

Dois dias depois, a equipe por trás da plataforma publicou um relatório técnico de 22 páginas em que avaliava seu desempenho e a colocava no mesmo patamar dos rivais americanos ChatGPT, da OpenAI, e Claude, da Anthropic.

O mundo da tecnologia reagiu inicialmente com ceticismo: quem garantia que o que estava escrito ali era verdade e que não se tratava de mera propaganda do governo chinês?

Esse momento foi breve. À medida que os especialistas foram testando o modelo e entendendo como tinha sido construído, perceberam que de fato rivalizava com os das big techs americanas — e embaralhava a disputa entre EUA e China pelo posto de superpotência da tecnologia.

Uma semana depois, o Vale do Silício entrou em pânico. As ações das 7 principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos desidrataram e as Magnificent 7 (Apple, Microsoft, Alphabet (Google), Amazon, Nvidia, Tesla e Meta) perderam US$ 1 trilhão em valor de mercado em 27 de janeiro.

Depois vieram os questionamentos, de que os US$ 5,5 milhões que a empresa afirma ter investido para treinar o modelo eram subestimados, de que o número de chips usados no projeto era maior do que os dois mil divulgados pela companhia.

Na quinta-feira (29/1), a OpenAI alegou que a DeepSeek usou dados do ChatGPT para treinar seu chatbot, sem dar mais detalhes sobre o caso.

Também repercutiu a autocensura da plataforma, que desconversa e dá respostas como “Desculpe, isso está além do meu escopo atual. Vamos falar de outra coisa” quando questionada sobre temas considerados controversos do ponto de vista da ideologia Partido Comunista Chinês — “O que foi o massacre da Praça Celestial?”, por exemplo.

Mas, para além da alta tensão na arena dos negócios e da geopolítica, a inovação em si trazida pela plataforma impressionou a comunidade científica, ressalta o pesquisador brasileiro Cleber Zanchettin.

Apesar de ter sido comparado ao ChatGPT do ponto de vista da experiência do usuário, por trás das cortinas o DeepSeek é bem distinto do concorrente americano.

“A forma como eles fizeram foi totalmente diferente da maioria das empresas de tecnologia”, diz o professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn-UFPE), montado na década de 1980 e hoje um dos líderes em pesquisa em inteligência artificial na América Latina.

Em entrevista à BBC News Brasil, o especialista mergulhou em quatro características que explicam porque o DeepSeek impressionou.

Sede da Nvidia em Santa Clara, na Califórnia: fabricantes de chips foi uma das viu ações despencarem nos útlimos dias

1. Código aberto

A primeira coisa que chamou atenção foi o código aberto. “Eles contaram coisas que não haviam sido divulgadas por outros fabricantes”, ressalta o professor.

Até então, predominavam entre os modelos de linguagem de grande escala (LLM na sigla em inglês, de “large language models”) os de código fechado, caso do ChatGPT e do Claude, em que toda a engrenagem por trás da interface é mantida em sigilo, e os de pesos abertos, em que alguns dos parâmetros são divulgados, caso do LLaMA, da Meta.

O DeepSeek, segundo Zanchettin, foi além.

“Eles de certa forma publicaram a receita de como você treina o modelo, que é um negócio protegido a sete chaves mesmo por quem publica os modelos em formato de open weights (pesos abertos). Acho que é um diferencial muito grande.”

Antes da chegada do chatbot, os pesquisadores não tinham uma noção muito clara da cadeia de raciocínio para se chegar a modelos mais avançados de inteligência artificial.

Botão DeepThink mostra linha de raciocínio do modelo

2. Raciocínio explícito

Nesse sentido, ele também aponta como diferencial o mecanismo que detalha o passo a passo do raciocínio em cada uma das respostas que o DeepSeek dá quando o botão “DeepThink” está ativo.

“A maioria das empresas não queria que a gente entendesse direito [como o modelo raciocina], porque isso pode levar você a perceber que ele está fazendo as coisas direito ou que não entendeu nada, e que o resultado é mais ou menos aleatório”, argumenta.

Em um teste feito pela reportagem com uma questão de matemática da segunda fase do vestibular do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) de 2024, o DeepSeek testou uma série de caminhos até chegar no que considerou a resposta correta.

Foi e voltou na linha de pensamento, com expressões como “Calma”, “Espere aí”, “Mas como?”, “Espere, talvez haja um caminho melhor”, “Deixe-me tentar essa abordagem”, “Outra ideia:”, “Isso parece demais, vamos checar novamente”, “Vamos nessa direção”.

Enxergar esse processo, segundo Zanchettin, é útil para os especialistas entenderem melhor a robustez e interpretarem as habilidades do modelo.

“Essa é uma informação bastante relevante do ponto de vista de como o modelo toma decisões.”

Para especialistas, experiência do usuário no DeepSeek se aproxima da última versão do ChatGPT

3. Aprendizagem por reforço

Outra surpresa foi o método usado para desenvolver e treinar a plataforma.

Os modelos fechados até então demandavam bastante intervenção humana, uma estratégia conhecida no jargão da inteligência artificial como “humano no loop” (HITL, na sigla em inglês), muito usada nas etapas de ajuste fino (“fine tuning”).

O DeepSeek tem uma dependência “muito menor” da supervisão humana, com uma abordagem centrada no aprendizado por reforço: o sistema é treinado dentro de um modelo de recompensas (em que recebe um retorno positivo, por exemplo, cada vez que dá a resposta correta para um problema matemático) e vai se sofisticando por conta própria, aprendendo a “raciocinar” de forma cada vez mais eficiente e, como consequência, melhorando a qualidade das respostas que devolve.

No relatório técnico divulgado em 22 de janeiro, a equipe compartilhou que perceber que a abordagem focada na auto-evolução tinha sido bem sucedida fora equivalente a um “aha moment”, algo como um “momento Eureca”.

“Isso tornou o processo não só mais interessante, mas também mais barato computacionalmente”, diz Zanchettin.

O que pode significar, ele acrescenta, que estamos diante de uma mudança de paradigma importante. Sem a necessidade de investimentos bilionários, mais atores têm chance de competir na busca por inovação em inteligência artificial, inclusive os brasileiros.

O pesquisador, que foi professor visitante na Northwestern University, pondera que, mesmo nos Estados Unidos, grupos de pesquisa e startups sem grandes recursos dificilmente conseguem disputar com as big techs, que se baseiam na “força bruta” quando se trata de sistemas de inteligência artificial: “Quanto mais recursos você tem, mais hardware você consegue adquirir, mais dados você pode usar para treinar o modelo, e melhor é o modelo.”

As inovações a menor custo da DeepSeek “colocam um monte de gente muito talentosa de volta ao tabuleiro de jogo, com possibilidade de inovar no mesmo nível”, acredita.

“Acho que vai abrir portas não só para ir para a academia, mas para a indústria e para a população como um todo, que vai ser inundada com muita inovação e com um custo menor.”

DeepSeek esquentou corrida entre EUA e China por supremacia tecnológica

4. Da restrição à inovação

A aprendizagem por reforço é uma entre uma série de inovações que a DeepSeek apresentou.

“Tem vários avanços tecnológicos, do ponto de vista de engenharia, que eles conseguiram fazer funcionar em conjunto e que a gente não tinha conseguido ainda. Esse também foi um diferencial grande”, diz o professor.

O feito chama ainda mais atenção por ter sido alcançado sem os melhores chips disponíveis no mercado, já que em 2022 os Estados Unidos impuseram à China restrições para importação de chips de última geração, justamente para barrar o avanço chinês nessa área, alegando preocupações com segurança.

“Aqui no Brasil, por conta das várias dificuldades que a gente enfrenta, a gente sempre teve esse mantra de que a dificuldade gera oportunidade, de que a inovação vem da restrição, e eu acho que a China provou isso agora”, acrescenta.

Até a estreia do DeepSeek, a crença em boa parte do Ocidente era de que a China estava bem atrás dos Estados Unidos na área de IA avançada. O ChatGPT surgiu em 2022 e, desde então, as big techs americanas vinham lançando suas plataformas de IA generativa com algum sucesso, como o Claude, da Anthropic, e o Gemini, do Google.

Empresas chinesas como Baidu, Tencent e ByteDance, dona do TikTok, chegaram a colocar no mercado modelos de IA, mas que não tinham sido considerados à altura do ChatGPT.

O DeepSeek muda o jogo e esquenta a corrida entre China e Estados Unidos pelo posto de grande potência da tecnologia deste século 21.

Dias depois da estreia, outra empresa chinesa, a Alibaba, lançou seu modelo de IA e disse que ele era ainda melhor do que o da conterrânea.

Para o pesquisador brasileiro, essa rivalidade dos chatbots é uma fatia pequena das ambições dos dois países na área de inteligência artificial, um ângulo que talvez nem lhes interesse tanto do ponto de vista estratégico.

A IA, ele lembra, tem aplicações militares e em áreas tão diversas quanto as de robótica, de veículos autônomos, de sistemas de comunicação e de saúde.

5 dicas para não errar na declaração do imposto de renda

Com a chegada de 2025, muitos brasileiros ainda se sentem confusos quanto às mudanças na Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF). Entre as principais discussões, está o impacto do Pix e a veracidade de informações que circulam na internet. Por isso, é essencial separar os fatos das especulações e entender as nuances dessa obrigação fiscal, que afeta diretamente a vida financeira de milhões de contribuintes.

De acordo com dados da Receita Federal publicados em dezembro de 2024, 78% dos contribuintes brasileiros utilizam o Pix para pagamentos e transferências. Apesar da popularidade da ferramenta, a Receita desmentiu que haja tributação específica ou monitoramento automático pelo uso do pagamento instantâneo brasileiro. Segundo o órgão, qualquer transação realizada por meio da plataforma segue os mesmos critérios das demais operações financeiras.

“A desinformação sobre o Pix gera um impacto compreensivo na população, causando receio e confusão desnecessária entre os contribuintes. É preciso que as pessoas compreendam que o Pix é apenas mais um meio de pagamento, e não um elemento de risco adicional, desde que as declarações estejam em conformidade com a realidade financeira”, explica Marcello Marin, contador, administrador, mestre em governança corporativa e especialista em recuperação judicial.

Como evitar problemas com o leão?

Nayhara Cardoso, head de direito tributário e previdenciário na RGL Advogados, pontua que a grande novidade para 2025 na DIRPF é a revisão das alíquotas e a ampliação da faixa de isenção. “A faixa de isenção passou de R$ 2.112 para R$ 2.640, beneficiando milhões de brasileiros. Essa mudança traz um alívio financeiro, especialmente para as famílias de baixa renda, que historicamente têm sofrido com a alta carga tributária. É um passo importante, mas ainda há muito a ser feito para simplificar e desonerar o sistema fiscal brasileiro”, destaca.

Além disso, foi introduzido um sistema de pré-preenchimento da declaração, que promete agilizar o processo e minimizar erros. “Apesar de positivo, o avanço exige atenção do contribuinte na hora de validar as informações, a fim de evitar inconsistências que possam levar à malha fina. Mesmo com a tecnologia ajudando no processo, a responsabilidade final é sempre do declarante. Então, uma revisão cuidadosa e redobrada de cada dado é essencial para garantir uma entrega correta”, complementa a profissional.

Dicas para fazer a declaração de imposto sobre a renda

A seguir, Marcello Marin e Nayhara Cardoso listam 5 dicas importantes que ajudarão na hora de fazer a Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. Confira!

É importante se atentar aos valores movimentados e declarados. “O Pix não é um fator de risco por si só, mas pode ser utilizado pela Receita como parte da análise global do perfil financeiro do contribuinte. Não é sobre o meio de pagamento, e sim sobre a coerência das informações declaradas. Se há discrepâncias significativas entre os valores movimentados e os declarados, isso pode acender um alerta para o órgão fiscalizador”, esclarece Marcello Marin.

Com a tecnologia, está mais fácil para a Receita Federal identificar erros na declaração. Por isso, é importante tomar cuidado. “A Receita Federal tem intensificado o uso de inteligência artificial e big data para identificar padrões incomuns e potenciais fraudes. Isso significa que movimentações atípicas ou inconsistências, mesmo que pequenas, podem chamar atenção. Portanto, é essencial entender como esses sistemas funcionam e evitar declarações imprecisas ou incompletas”, orienta Nayhara Cardoso.

Organize as contas e as documentações antes de fazer a declaração (Imagem: fizkes | Shutterstock)

A organização pode fazer grande diferença na hora de fazer a Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. “Não espere até o período da declaração para reunir documentos e informações. Manter registros organizados de receitas, despesas e investimentos ao longo do ano facilita a declaração e reduz o risco de erros. Essa prática também ajuda no planejamento financeiro”, afirma Marcello Marin.

Outro cuidado importante está relacionado aos rendimentos não tributáveis. “Em 2025, há um foco maior na declaração de rendimentos não tributáveis, como doações e indenizações. É importante que esses valores sejam devidamente justificados e documentados, especialmente em situações de maior valor, para evitar questionamentos futuros”, reforça Nayhara Cardoso.

Esteja atento à tributação sobre os investimentos. “Com o aumento de brasileiros investindo em ativos como NFTs e startups, é fundamental entender as regras de tributação desses produtos. Apesar de não serem amplamente explorados pela mídia, são áreas em que a Receita tem mostrado interesse crescente e podem gerar dúvidas para os contribuintes”, diz Marcello Marin.

Fique atento para não errar a declaração

Perante a disseminação de fake news e mudanças significativas nas regras fiscais, o contribuinte precisa estar bem informado para evitar erros e penalidades. “A Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física deve ser encarada como uma oportunidade de organizar as finanças e estar em conformidade com a lei. Informação e planejamento são fundamentais para evitar problemas e aproveitar os benefícios disponíveis”, conclui Nayhara Cardoso.

DeepSeek: como os ‘heróis da IA’ da China venceram obstáculos dos EUA e surpreenderam o Vale do Silício

Quando o ChatGPT mudou o mundo da inteligência artificial (IA), uma pergunta inevitável surgiu: o que isso significou para a China, a maior rival tecnológica dos Estados Unidos?

Dois anos depois, um novo modelo de IA da China inverteu essa questão: os EUA podem impedir a inovação chinesa?

Por um tempo, Pequim pareceu estar perdida diante do ChatGPT, que não está disponível na China.

Usuários pouco impressionados zombaram de Ernie, o chatbot do mecanismo de busca Baidu, muito difundido no país.

Depois, vieram versões das empresas de tecnologia Tencent e ByteDance, que foram descartadas como cópias inferiores do ChatGPT.

Washington estava confiante de que estava à frente. O governo Biden até aumentou as restrições proibindo a exportação de chips e tecnologia avançados para a China, para evitar compartilhar a tecnologia.

É por isso que o lançamento do DeepSeek surpreendeu o Vale do Silício e o mundo.

A empresa diz que seu modelo poderoso é muito mais barato do que os bilhões que as empresas dos EUA gastaram em IA.

Mas como uma empresa pouco conhecida — cujo fundador está sendo aclamado nas redes sociais chinesas como um “herói da IA” — conseguiu esse feito?

O desafio

Quando os EUA proibiram os principais fabricantes de microchips do mundo, como a Nvidia, de vender tecnologia avançada para a China, foi certamente um golpe para o desenvolvimento de tecnologia no país.

Esses chips são essenciais para construir modelos de IA poderosos que podem executar uma série de tarefas humanas, desde responder a consultas básicas até resolver problemas matemáticos complexos.

O fundador da DeepSeek, Liang Wenfeng, descreveu a proibição de chips como seu “principal desafio” em entrevistas com a mídia local.

Muito antes da proibição, a DeepSeek comprou um estoque de chips Nvidia A100 — as estimativas variam de 10 mil a 50 mil — de acordo com a publicação MIT Technology Review.

Os principais modelos de IA no ocidente usam cerca de 16 mil chips especializados. Mas a DeepSeek diz que treinou seu modelo de IA usando 2 mil desses chips e milhares de chips de qualidade inferior — o que torna seu produto mais barato.

Alguns, incluindo o bilionário Elon Musk, questionaram essa afirmação, argumentando que a empresa não pode revelar quantos chips avançados ela realmente usou, dadas as restrições.

Mas especialistas dizem que a proibição de Washington trouxe desafios e oportunidades para a indústria chinesa de IA.

Ela “forçou empresas chinesas como a DeepSeek a inovar” para que pudessem fazer mais com menos, diz Marina Zhang, professora associada da Universidade de Tecnologia de Sidney, na Austrália.

O fundador da DeepSeek, Liang Wenfung (à dir.), em uma reunião com o governo

“Embora essas restrições tenham sido desafios, elas também estimularam a criatividade e a resiliência, alinhando-se com os objetivos políticos mais amplos da China de alcançar a independência tecnológica”, diz Zhang.

A segunda maior economia do mundo investiu pesadamente em tecnologias — das baterias que alimentam veículos elétricos e painéis solares à IA.

Transformar a China em uma superpotência tecnológica tem sido a ambição do presidente Xi Jinping há muito tempo. Então o governo também decidiu enfrentar as restrições de Washington.

O lançamento do novo modelo da DeepSeek em 20 de janeiro, quando Donald Trump tomou posse como presidente dos EUA, foi deliberado, de acordo com Gregory Allen, especialista em IA do Centro Internacional para Estudos Estratégicos.

“O momento e a maneira como a notícia está sendo transmitida é para implicar que protecionismo não funciona e que os EUA não é líder global em IA”, diz o Allen, ex-diretor de estratégia e política do Centro Conjunto de Inteligência Artificial do Departamento de Defesa dos EUA.

Nos últimos anos, o governo chinês tem nutrido talentos em IA, oferecendo bolsas de estudo e subsídios para pesquisa, e encorajando parcerias entre universidades e indústria.

O National Engineering Laboratory for Deep Learning e outras iniciativas apoiadas pelo estado ajudaram a treinar milhares de especialistas em IA, de acordo com Zhang.

E a China tinha muitos engenheiros brilhantes para recrutar.

O sucesso do DeepSeek vem em meio ao maior feriado chinês, o Ano Novo Lunar

O talento

Tomemos como exemplo a equipe da DeepSeek — a mídia chinesa diz que ela é composta por menos de 140 pessoas, a maioria das quais são o que a internet orgulhosamente declarou como “talentos locais” de universidades chinesas de elite.

Observadores ocidentais não notaram o surgimento de “uma nova geração de empreendedores que priorizam a pesquisa de base e o avanço tecnológico de longo prazo em vez de lucros rápidos”, diz Zhang.

As principais universidades da China estão criando um “grupo de talentos de IA em rápido crescimento”, onde até mesmo os chefes geralmente têm menos de 35 anos.

“Tendo crescido durante a rápida ascensão tecnológica da China, eles são profundamente motivados por um impulso de autoconfiança na inovação”, acrescenta ela.

O fundador da Deepseek, Liang Wenfeng, é um exemplo disso. Ele tem 40 anos e estudou IA na prestigiosa Universidade de Zhejiang.

A mídia chinesa o descreve como um “idealista técnico” — ele insiste em manter a DeepSeek como uma plataforma de código aberto.

Na verdade, os especialistas também acreditam que uma cultura de código aberto próspera permitiu que novas startups unissem esforços e avançassem mais rápido.

Ao contrário das maiores empresas de tecnologia chinesas, a DeepSeek priorizou a pesquisa, o que permitiu mais experimentação, de acordo com especialistas e pessoas que trabalharam na empresa.

“Os 50 melhores talentos neste campo podem não estar na China, mas podemos formar pessoas aqui”, disse Liang em uma entrevista com o site de tecnologia 36Kr.

Mas os especialistas questionam até onde a DeepSeek pode ir.

Zhang diz que “novas restrições dos EUA podem limitar o acesso a dados de usuários americanos, potencialmente impactando como modelos chineses como o DeepSeek podem atingir o resto do mundo.”

E outros dizem que os EUA ainda têm uma grande vantagem, como “sua enorme quantidade de recursos de computação”, diz Allen. Também não está claro como o DeepSeek continuará usando chips avançados para continuar melhorando o modelo.

Mas, por enquanto, o DeepSeek está aproveitando o momento, dado que a maioria das pessoas na China nunca tinha ouvido falar do aplicativo até o último fim de semana.

‘Heróis da IA’

Sua fama repentina fez com que Liang se tornasse um sucesso nas redes sociais da China, onde ele está sendo aplaudido como um dos “três heróis da IA” da província de Guangdong, no sul, que faz fronteira com Hong Kong.

Os outros dois são Zhilin Yang, um especialista da Universidade de Tsinghua, e Kaiming He, que leciona no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA.

O DeepSeek encantou a internet chinesa antes do Ano Novo Lunar, o maior feriado do país. É uma boa notícia para uma economia sitiada e uma indústria de tecnologia que está se preparando para mais taxas e a possível venda da operação do TikTok nos EUA.

“O DeepSeek nos mostra que você só resistirá ao teste do tempo se for bom de verdade”, diz um comentário do Weibo muito curtido.

A reação na China é uma “mistura de choque e excitação, particularmente dentro da comunidade de código aberto”, descreve Wei Sun, analista principal de IA da Counterpoint Research.

Alexandre Nero e Renato Goés apresentam Marco Aurélio e Ivan, de ‘Vale tudo’; veja fotos

“Uisquinho pro doutor Marco Aurélio, por favor”, pediu o diretor Cristiano Marques. Com a bebida na mão, o ator Alexandre Nero incorporou o arrogante empresário que, em cena, se recusou a ser apresentado a Ivan, seu mero subalterno, interpretado por Renato Góes. Os dois atores — mais alguns colegas de elenco e dezenas de figurantes — estavam, semana passada, numa casa de festas alugada pela TV Globo em Ilha de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, onde foram gravadas cenas de “Vale tudo”, novela das 21h que sucede “Mania de você” no fim de março.

Marco Aurélio e Ivan são dois dos principais personagens masculinos da trama, escrita por Manuela Dias, com direção artística de Paulo Silvestrini. Uma das maiores apostas da emissora neste ano, a novela é uma releitura de uma das obras-primas da teledramaturgia brasileira. Concebida por Gilberto Braga escrita em parceria com Aguinaldo Silva Leonor Bassères, a “Vale tudo” original estreou em 1988, época de profundo pessimismo econômico causado pela galopante inflação dos anos Sarney.

A história central girava em torno de Raquel (em 1988, Regina Duarte; em 2025, Taís Araujo) uma mulher muito honesta, e a filha dela, a inescrupulosa Maria de Fátima (antes, Gloria Pires; agora Bella Campos), certa de que a retidão nunca lhe daria o poder, a fama e a riqueza que almejava. Ao redor das duas, estavam outros tantos tipos, entre folgados, trabalhadores e milionários — cada um com sua concepção de ética. Na época, a grande pergunta feita pela obra era: “vale a pena ser honesto no Brasil?”.

—Depois que revi a primeira semana da original no Globoplay, tive certeza de que merecia um remake — disse Nero, num dos intervalos da gravação. —Mas com atualizações, porque, apesar de maravilhosa, é uma novela datada.

Atualizando um clássico

Os 37 anos que separam as duas versões foram tempo suficiente para que algumas narrativas envelhecessem. Não à toa, o Globoplay coloca o aviso, antes de cada capítulo da versão original, de que a obra pode conter “representações e estereótipos da época em que foi realizada”.

Embora a história central seja a mesma, garante Manuela Dias, e a essência dos personagens também, foi preciso alterações.

—Hoje em dia, por exemplo, quem vende sanduíche na praia está atuando dentro de um contexto de empreendedorismo e não de “bico”, como isso era visto e vivido nos anos 1980 — disse a autora sobre a atividade de Raquel quando chega no Rio em busca da filha.

Em Raquel e Fátima, aliás, está outra gigantesca mudança: as duas, em 2025, são mulheres negras. Em 1988, a novela teve apenas dois negros no elenco: Fernando Almeida como Gildo (com frequência chamado de “pivete” nos diálogos) e Zeni Pereira como a empregada doméstica Zezé, ambos papéis secundários.

—Raquel é uma mulher tão brasileira: simples, do corre — disse Taís, depois de uma cena em que o figurino deixava à mostra sua tatuagem cenográfica: “Maria de Fátima” no lado esquerdo do peito. — Quando leio (os roteiros), vejo que faz todo sentido ser uma mulher preta nesse personagem em 2025. Já faria em 1988.

É coerente também que a Tomorrow, antes uma revista de moda que Fátima usava como trampolim para o sucesso, seja convertida em agência de conteúdo, perfeitamente alinhada ao sonho da golpista de virar influenciadora digital.

— Poder, fama e influência estão sempre presentes em qualquer sociedade — disse Manuela. — O que muda é o que gera fama, o que é poder e quais são as ferramentas usadas pelos “influenciadores” de cada época. Sócrates era um grande influencer na Grécia; o logos, a palavra, já era poder naquela época. A rede social dele era a ágora, a praça. Em 1988, as revistas eram veículos de ponta. Hoje, faz sentido a Tomorrow ter uma atuação mais ampla.

A “festa” que O GLOBO acompanhou foi parte dessa diversificação de atuação da Tomorrow. Marco Aurélio, Ivan e Raquel estavam no prêmio “Mulher representa”, organizado pela agência para celebrar lideranças femininas. A cantora Iza comandou o som; a líder indígena Txai Suruí foi a grande homenageada. Palavras como “resiliência”, “sororidade” e outras pouco usadas na década de 1980 estavam espalhadas pelo cenário em chamativos banners — para desespero de Marco Aurélio.

— Ele acha um saco, ri dessa festa, odeia tudo — disse Nero. — Tive que falar para a Txai: “desculpa o que vou fazer, mas não sou eu, é o Marco Aurélio”.

Enquanto Nero dá pistas sobre o que esperar do reprovável comportamento do empresário (“um racismo estrutural, uma homofobia estrutural”, ainda que velada), Renato Góes adianta que Ivan é uma “balança” entre a honestidade de Raquel e a picaretagem de Fátima:

—Não existe ninguém tão 100% correto, que não minta, que não dê uma ajustada numa história. A mãe se põe em segundo, terceiro, quarto lugar. A filha se coloca em primeiro. No meio disso está o Ivan, que representa muito o brasileiro.

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Alexandre Nero e Renato Goés apresentam Marco Aurélio e Ivan, de ‘Vale tudo’; veja fotos

“Uisquinho pro doutor Marco Aurélio, por favor”, pediu o diretor Cristiano Marques. Com a bebida na mão, o ator Alexandre Nero incorporou o arrogante empresário que, em cena, se recusou a ser apresentado a Ivan, seu mero subalterno, interpretado por Renato Góes. Os dois atores — mais alguns colegas de elenco e dezenas de figurantes — estavam, semana passada, numa casa de festas alugada pela TV Globo em Ilha de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, onde foram gravadas cenas de “Vale tudo”, novela das 21h que sucede “Mania de você” no fim de março.

Marco Aurélio e Ivan são dois dos principais personagens masculinos da trama, escrita por Manuela Dias, com direção artística de Paulo Silvestrini. Uma das maiores apostas da emissora neste ano, a novela é uma releitura de uma das obras-primas da teledramaturgia brasileira. Concebida por Gilberto Braga e escrita em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a “Vale tudo” original estreou em 1988, época de profundo pessimismo econômico causado pela galopante inflação dos anos Sarney.

A história central girava em torno de Raquel (em 1988, Regina Duarte; em 2025, Taís Araujo) uma mulher muito honesta, e a filha dela, a inescrupulosa Maria de Fátima (antes, Gloria Pires; agora Bella Campos), certa de que a retidão nunca lhe daria o poder, a fama e a riqueza que almejava. Ao redor das duas, estavam outros tantos tipos, entre folgados, trabalhadores e milionários — cada um com sua concepção de ética. Na época, a grande pergunta feita pela obra era: “vale a pena ser honesto no Brasil?”.

—Depois que revi a primeira semana da original no Globoplay, tive certeza de que merecia um remake — disse Nero, num dos intervalos da gravação. —Mas com atualizações, porque, apesar de maravilhosa, é uma novela datada.

Atualizando um clássico

Os 37 anos que separam as duas versões foram tempo suficiente para que algumas narrativas envelhecessem. Não à toa, o Globoplay coloca o aviso, antes de cada capítulo da versão original, de que a obra pode conter “representações e estereótipos da época em que foi realizada”.

Embora a história central seja a mesma, garante Manuela Dias, e a essência dos personagens também, foi preciso alterações.

—Hoje em dia, por exemplo, quem vende sanduíche na praia está atuando dentro de um contexto de empreendedorismo e não de “bico”, como isso era visto e vivido nos anos 1980 — disse a autora sobre a atividade de Raquel quando chega no Rio em busca da filha.

Em Raquel e Fátima, aliás, está outra gigantesca mudança: as duas, em 2025, são mulheres negras. Em 1988, a novela teve apenas dois negros no elenco: Fernando Almeida como Gildo (com frequência chamado de “pivete” nos diálogos) e Zeni Pereira como a empregada doméstica Zezé, ambos papéis secundários.

—Raquel é uma mulher tão brasileira: simples, do corre — disse Taís, depois de uma cena em que o figurino deixava à mostra sua tatuagem cenográfica: “Maria de Fátima” no lado esquerdo do peito. — Quando leio (os roteiros), vejo que faz todo sentido ser uma mulher preta nesse personagem em 2025. Já faria em 1988.

É coerente também que a Tomorrow, antes uma revista de moda que Fátima usava como trampolim para o sucesso, seja convertida em agência de conteúdo, perfeitamente alinhada ao sonho da golpista de virar influenciadora digital.

— Poder, fama e influência estão sempre presentes em qualquer sociedade — disse Manuela. — O que muda é o que gera fama, o que é poder e quais são as ferramentas usadas pelos “influenciadores” de cada época. Sócrates era um grande influencer na Grécia; o logos, a palavra, já era poder naquela época. A rede social dele era a ágora, a praça. Em 1988, as revistas eram veículos de ponta. Hoje, faz sentido a Tomorrow ter uma atuação mais ampla.

A “festa” que O GLOBO acompanhou foi parte dessa diversificação de atuação da Tomorrow. Marco Aurélio, Ivan e Raquel estavam no prêmio “Mulher representa”, organizado pela agência para celebrar lideranças femininas. A cantora Iza comandou o som; a líder indígena Txai Suruí foi a grande homenageada. Palavras como “resiliência”, “sororidade” e outras pouco usadas na década de 1980 estavam espalhadas pelo cenário em chamativos banners — para desespero de Marco Aurélio.

— Ele acha um saco, ri dessa festa, odeia tudo — disse Nero. — Tive que falar para a Txai: “desculpa o que vou fazer, mas não sou eu, é o Marco Aurélio”.

Enquanto Nero dá pistas sobre o que esperar do reprovável comportamento do empresário (“um racismo estrutural, uma homofobia estrutural”, ainda que velada), Renato Góes adianta que Ivan é uma “balança” entre a honestidade de Raquel e a picaretagem de Fátima:

—Não existe ninguém tão 100% correto, que não minta, que não dê uma ajustada numa história. A mãe se põe em segundo, terceiro, quarto lugar. A filha se coloca em primeiro. No meio disso está o Ivan, que representa muito o brasileiro.

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Em Davos, Donald Trump ameaça empresários estrangeiros com “tarifaço”

Donald Trump escolheu o cenário, ainda que virtualmente, e a ocasião para enviar uma mensagem ameaçadora aos empresários de outros países. “Minha mensagem para todas as empresas do mundo é simples: venham fabricar seus produtos nos Estados Unidos. Nós lhes daremos os menores impostos de qualquer nação na Terra. Estamos reduzindo-os substancialmente, mesmo em relação aos cortes de impostos originais de Trump”, declarou o presidente americano, antes de enviar-lhes um alerta. “Mas, se não os produzirem nos EUA, e estão em seu direito, então, simplesmente, terão que pagar tarifas — de quantias diferentes, mas uma tarifa — que direcionará centenas de bilhões de dólares, e até trilhões de dólares, para o nosso Tesouro, a fim de fortalecer nossa economia e pagar dívidas”, acrescentou.

De acordo com Trump, sob seu governo, não haverá lugar melhor na Terra para criar empregos, construir fábricas ou expandir uma empresa do que nos Estados Unidos. Em seu discurso de posse, na Rotunda do Capitólio, na última segunda-feira, Trump anunciou que começaria, imediatamente, a revisar o sistema de comércio dos EUA para proteger trabalhadores e famílias americanas. “Em vez de taxar nossos cidadãos para enriquecer outros países, tarifaremos e taxaremos países estrangeiros para enriquecer nossos cidadãos”, avisou. “O sonho americano logo estará de volta e prosperando como nunca antes.”

O discurso desta quinta-feira (23/1) do presidente americano foi muito aplaudido e transmitido em um telão do auditório principal do centro de congressos de Davos, local do Fórum Econômico Mundial. A plateia de Trump incluiu os nomes mais importantes da economia do planeta, como Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI); Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu; Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC); e John Kerry, ex-secretário de Estado e ex-enviado especial dos Estados Unidos para o clima.

Parcerias em xeque

Na segunda-feira (20), horas depois da posse, Trump anunciou a imposição de tarifas alfandegárias de 25% ao México e ao Canadá, parceiros comerciais históricos dos Estados Unidos. A medida deverá vigorar a partir de 1º de fevereiro. “Estamos pensando em termos de 25% para México e Canadá, pois estão permitindo um enorme número de pessoas. O Canadá também abusa fortemente — grandes quantidades de gente vindo e de fentanil chegando”, declarou, relacionando a decisão à imigração irregular. Durante a campanha, ele também tinha prometido taxar 10% adicionais sobre a importação de produtos da China.

Em entrevista ao Correio, Simon Johnson (leia Duas perguntas para), professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2024, afirmou que Trump utiliza um estilo e uma retórica peculiares para obter vantagens comerciais aos EUA. Johnson também advertiu sobre o risco de uma guerra tarifária de proporções internacionais, mas demonstrou ceticismo em relação à sua aplicação.

No discurso virtual ao Fórum Econômico Mundial, Trump cobrou a redução nos preços do petróleo e associou-os ao fim imediato da guerra entre Rússia e a Ucrânia e à melhora da economia americana. “Com os preços do petróleo em queda, eu exigirei que as taxas de juros caiam imediatamente. Da mesma forma, eles (os preços do petróleo) deveriam estar caindo em todo o mundo. As taxas de juros deveriam nos seguir”, defendeu.

Trump aproveitou sua intervenção em Davos para destacar o que chamou de “Era Dourada da América”. “O que o mundo testemunhou nas últimas 72 horas foi nada menos do que uma revolução do senso comum. “Nosso país, em breve, será mais forte, mais rico e mais unido do que nunca, e todo o planeta será mais pacífico e próspero, como resultado desse impulso incrível e do que estamos fazendo e vamos fazer”, disse. Mais uma vez, o republicano desqualificou o antecessor, Joe Biden. “Ele perdeu totalmente o controle do país”, afirmou o novo presidente.

Simon Johnson, professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e laureado com o Nobel de Economia em 2024

Simon Johnson, professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e ganhador do Nobel de Economia de 2024

Como o senhor vê o alerta de Trump para que os empresários fabriquem seus produtos nos EUA?

O senhor Trump está negociando. Esse é seu estilo e sua retórica. A imposição de tarifas aumentaria o custo dos produtos para os consumidores americanos, e isso inclui muitas pessoas que votaram nele. Também haveria uma retaliação por parte de outros países. Mas, se as companhias fizerem uma demonstração de investimento nos EUA, ou apenas anunciarem compromissos, isso o apaziguará. Se tais investimentos se materializarão ou não, e gerarão muitos bons empregos, ainda não se sabe.

Quais seriam as consequências de uma “guerra tarifária” para a economia norte-americana?

Uma “guerra tarifária” real seria onerosa para todos. É improvável que o senhor Trump vá tão longe. Ele quer fazer acordos que pareçam bons e desempenhar um bom papel nas mídias sociais. Outros países serão inteligentes o bastante para perceberem isso. Ninguém deseja uma guerra tarifária ou uma guerra comercial de qualquer tipo. (RC)

John Coughenour, juiz federal de Seattle (Washington), bloqueou temporariamente a ordem executiva firmada pelo presidente Donald Trump em que determinava o fim do direito à cidadania por nascimento. “Estou no tribunal há mais de quatro décadas e não me lembro de outro caso em que a questão apresentada fosse tão clara como neste. Esta é uma ordem flagrantemente inconstitucional”, justificou o magistrado, ao comandar uma audiência em resposta a uma ação judicial contra a medida apresentada pelos estados de Washington, Arizona, Oregon e Illinois. A previsão é de que a ordem executiva permaneça suspensa, inicialmente, por 14 dias.

Vista aérea da fronteira entre EUA e México, em El Paso, no Texas

De acordo com o jornal The Seattle Times, Coughenour chegou a interromper Brett Shumate, advogado do Departamento de Justiça e representante do governo Trump. “Na sua opinião, essa ordem executiva é constitucional?”, perguntou o juiz. A resposta de Shumate foi: “Absolutamente”. “Francamente, tenho dificuldade em entender como um membro da Ordem dos Advogados pode declarar inequivocamente que esta é uma ordem constitucional. Isso simplesmente me deixa perplexo”, rebateu o magistrado, que foi indicado, em 1981, pelo então presidente republicano, Ronald Reagan.

Trump anunciou que recorrerá da decisão do juiz. “Apelaremos, obviamente”, disse, no Salão Oval. O Departamento de Justiça prometeu “defender vigorosamente” o decreto de Trump. A ordem executiva, caso entre em vigor, impossibilitará a emissão de passaportes, certidões de nascimento e outros documentos a crianças cujas mães estejam em território americano de modo ilegal ou temporário, e cujo pai não seja cidadão americano ou não tenha residência permanente.

Resistência

Ao todo, 22 dos 50 estados dos EUA entraram com ações na Justiça para bloquear o fim do direito à cidadania por nascimento, benefício consagrado na 14ª Emenda da Constituição americana. “Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãs dos Estados Unidos e do estado onde residem”, declara a emenda.

Presidente do Migration Policy Institute (Instituto de Política Migratória — MPI), baseado em Washington, Andrew Selee afirmou ao Correio que o governo Trump esperava que a ordem executiva fosse bloqueada pela Corte. “Estão apostando na apelação — eventualmente, na Suprema Corte — para terem mais sorte. À primeira vista, a Constituição é clara ao atestar que todas as crianças nascidas nos EUA são cidadãs, mas há nuances suficientes no modo como essa parte do texto é escrita para que o governo espere obter apoio de tribunais superiores para manter a ordem executiva”, explicou.

Selee espera por mais ordens executivas desafiadas nos tribunais. Ele acredita que as instâncias inferiores poderão decidir contra o governo, mas os tribunais superiores, apoiar as medidas. “A Casa Branca pode perder alguns dos casos por completo. Trump espera por isso. Por isso, existem tantas ordens executivas, mudanças regulatóras e decisões políticas que se sobrepõem, de modo que, quando uma for derrubada, outra estará em vigor. (RC)

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