Tim pode estar por trás do interesse de Carlos Slim na Oi

A América Móvil, do grupo mexicano dono da Claro, Net e Embratel no Brasil, tem interesse em comprar toda – ou parte – da Oi, em recuperação judicial desde julho.

A declaração foi dada por Daniel Haji, CEO do grupo, em entrevista hoje ao Valor Econômico.

A justificativa do negócio se daria pela clara grandeza da Oi no mercado de telecom brasileiro, com 20,1% do setor em receita bruta, 48 milhões de celulares ativos e 15,1 milhões de telefones fixos no país.

A intenção, no entanto, pode ir bem além: comprar a Tim, unidade da Telecom Itália.

Em 2014, a empresa do grupo mexicano admitiu ter negociado com a Oi a possibilidade de, com ela, adquirir a rival. Na época, o alvo valia estimados R$ 45 bilhões – quase o valor da dívida da Oi naquele ano.

Em dezembro, a Oi disse que trabalhava para fazer uma nova oferta pela Tim até janeiro, o que não aconteceu. Em julho, ela entrou com pedido de recuperação judicial, acumulando uma dívida de R$ 65,4 bilhões.

Com a Claro, a chance de um acordo vingar seria bem maior, graças ao poderio financeiro da empresa, cuja maior parte das ações estão no controle da família do bilionário Carlos Slim, a quarta pessoa mais rica do mundo.

A América Móvil é a principal operadora de telecom da América Latina, segundo dados da Teleco. Com a Telefônica, controla 70% dos celulares da região.

A possível expansão em vários segmentos, com oferta de serviços combinados e ampliação das operações em telefonia fixa podem ser um dos atrativos.

Apenas no segundo trimestre deste ano, o grupo de empresas vendeu o equivalente a R$ 8,49 bilhões, 0,8% mais que um ano antes, apesar do prejuízo de R$ 231,6 milhões.

Enquanto faturou 10% menos que um ano antes com serviços móveis, no total de R$ 2,94 bilhões, a receita com telefonia fixa cresceu 5,4% para R$ 6,13 bilhões.

No Brasil, a participação de mercado da empresa em receita bruta é de 25,3%, atrás somente da Vivo, com 32,5%.

Vivo e Oi, entretanto, tem cada uma 34,4% dos acessos de telefonia fixa do país, enquanto a América Móvil detém 26,5% de participação.

Consolidação do setor

Não seria a primeira vez que concorrentes mostram interesse em investir em uma consolidação do setor no país.

Também não é a estreia da Tim nas especulações de mercado como a empresa alvo de possíveis aquisições.

Em novembro do ano passado, a LetterOne, do bilionário russo Mikhail Fridman, propôs uma fusão entre Oi e Tim.

Pela proposta, o fundo faria um aporte de até US$ 4 bilhões na Oi com a condição da operadora se unir à concorrente.

Com a recusa da Tim, o negócio não vingou e o investidor saiu de cena, sem tirar um centavo do bolso. Antes disso, Vivo e Claro também haviam demonstrado interesse na rival.

O pedido de recuperação da Oi facilita, desta vez, a abertura de uma negociação mais aberta, apesar de ainda incerta, segundo entrevista de Haji.

De acordo com ele, a intenção é avaliar a possível compra da recuperanda e fechar o que for mais conveniente, de acordo com o preço, ativos vendidos e aval da regulamentação brasileira.

O executivo acredita que, se concretizada, a consolidação do setor será boa para o mercado e para os brasileiros. Mas ainda não está claro o que será vendido pela Oi nem como.

“Estou muito interessado em participar da consolidação no Brasil, mas não sei como será feita”, acrescentou ele na conversa ao Valor.

A entrevista rendeu uma repercussão positiva aos papéis da Pharol, negociadas na bolsa de valores de Portugal. As ações da empresa, que detém 22% da Oi, subiram quase 9% até agora. As ações da Oi registravam ganhos de até 12% nesta manhã.

Dívida histórica

Com uma dívida de R$ 65,4 bilhões, a Oi protagoniza hoje o maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil. A companhia divulgou ontem a lista de credores, com valores atualizados.

Na semana passada, divulgou também um plano de recuperação “que não leva em conta os interesses dos credores”, de acordo com maioria dos que tem direito a receber.

A companhia também passa por uma disputa de sócios – de um lado o fundo português Pharol e do outro o fundo Société Mondiale, ligado ao investidor Nelson Tanure.

Há poucos dias, indicou dois novos membros titulares e quatro suplentes ao conselho de administração da companhia – uma delas preenchida pelo ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Os nomes ainda serão encaminhados para anuência na Anatel.

Fonte: Exame


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